Nos últimos anos, poucos setores cresceram tanto na economia brasileira quanto o de motocicletas. De 2005 a 2009, o mercado saltou de 700 mil unidades para 1,6 milhão. A principal explicação para esse desempenho foi o fenômeno dos motoboys nas grandes metrópoles. E as empresas que mais se beneficiaram disso foram as concorrentes japonesas Honda e Yamaha, com motos de baixa cilindrada. 

 

De fora da festa, estava a também japonesa Kawasaki, que havia feito história no Brasil com modelos de luxo, como a Ninja no fim da década de 80, mas que, em países do Sudeste Asiático, vende motos tão baratas quanto as de suas rivais. Qual seria então a melhor estratégia para crescer no mercado brasileiro? Luxo, luxo e mais luxo. 

 

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Matsumoto: ”A expectativa em relação ao consumidor premium é tão grande 
que iremos ampliar em 50% nossas concessionárias” 

 

É assim que a Kawasaki pretende voltar a reinar: trazendo modelos sofisticados como a Vulcan 900. “Entrar numa guerra de preços no Brasil não seria boa ideia, no momento em que os chineses estão trazendo motos ainda mais baratas”, diz à DINHEIRO Naoki Matsumoto, vice-presidente da Kawasaki Motores do Brasil. O preço das motos da marca variam de R$ 20 mil a R$ 62 mil.

 

No fundo, a estratégia da Kawasaki ao focar-se no mercado premium, que representa 3% das vendas mas apresenta uma margem de lucro maior, é atrair um público de alto poder aquisitivo que busca na moto o sentimento de liberdade e o prazer de pilotar ao som do ronco de um motor potente. 

 

Os modelos que a fabricante está nacionalizando propiciam isso. A mais nova nacionalizada, a Vulcan, tem como destaque o design arrojado de uma cruiser associado à potência de um motor de 900 cilindradas, de amplo torque. Com posição confortável de pilotagem, ela é uma boa opção para longas viagens. E é isso que esse consumidor mais sofisticado, que vai pilotá-la apenas nas horas vagas, busca.  

 

Em 2009, de olho nesse mercado que movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão ao ano, a companhia japonesa instalou sua planta em um terreno alugado em frente ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões, famoso cartão-postal de Manaus (AM). Japonês, Matsumoto confessa a sua ansiedade com relação ao projeto brasileiro que ajudou a montar. “A expectativa da matriz no Japão é tão grande que até fico nervoso”, comenta. Seus medos se mostraram infundados. 

 

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Saídas do forno: motos Vulcan 900 recém-saídas da linha de montagem da fábrica japonesa Kawasaki, 
em Manaus. Em 2010, cerca de dez mil unidades de todos os modelos da marca serão produzidas

 

Com  faturamento atual de cerca de R$ 160 milhões, a companhia pulou da sexta posição no ranking de vendas das motos de altas cilindradas, para a quarta, no período de um ano. Passou de 806 unidades vendidas para a surpreendente marca de 4.008 em 2010. Um avanço acelerado da empresa no País.

 

Acelerado também foi o processo de instalação da fábrica. Os cerca de sete meses entre a montagem e o início da produção mostram que a Kawasaki queria chegar logo ao seu destino. Em 2005 a empresa estava pronta para tornar o “projeto Brasil” viável, mas a dificuldade de negociações entre a companhia e o Grupo Ava, o importador oficial, levou a empresa a esperar, pacientemente, pelo fim do contrato.

 

“Quando, em 2008, pudemos começar a montagem da fábrica, a crise econômica atrasou mais uma vez o projeto. Por isso, em 2009, não podíamos mais perder tempo”, afirma Ricardo Suzuki, diretor de marketing da companhia. A marca já tinha boa aceitação no mercado nacional e não poderia perder o bom momento brasileiro. “A Kawasaki é certamente uma marca muito respeitada no Brasil e, com a nacionalização, vem ganhando  mais força nos últimos seis meses”,  diz Leandro Mello consultor e piloto de testes.

 

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Sabendo que o exigente consumidor desse mercado premium gosta de ser bem servido, faz parte da estratégia da empresa ampliar sua rede de concessionárias. São atualmente 40 endereços nas regiões Sul e Sudeste – que abrigam o principal mercado da marca –, mas esse número deve subir para 60, em três meses. 

 

A Kawasaki não é a única a ganhar destaque no segmento premium. A alemã BMW também já começa a produzir no País e a italiana Ducati – a preferida do astro hollywoodiano Brad Pitt – sinaliza ser a próxima. ”Com a melhora no poder aquisitivo, as pessoas passam a ter mais de um veículo em casa e optam pelas motos de maior porte. As vendas de motos de alta cilindrada devem crescer cerca de 5% em dois anos”, diz Sérgio Oliveira,  gerente de relacionamento da Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo).