Nem hotel, nem Airbnb, nem aluguel tradicional. Há um novo perfil de consumidor no mercado imobiliário que não quer abrir mão do luxo e do conforto com que está acostumado quando se desloca a trabalho, tanto em viagens mais curtas, de até um mês, quanto em estadias mais longas. E prefere encontrar um ambiente mais aconchegante do que o padrão de hospitalidade tradicional. Parece uma equação difícil de solucionar, mas incorporadoras e startups estão respondendo a essa demanda com soluções inteligentes.

Uma dessas iniciativas é a marca Paulistano, criada pela incorporadora Idea!Zarvos. A empresa é conhecida por seus edifícios com arquitetura autoral em regiões badaladas como a Vila Madalena, em São Paulo, escolhidos por startups para abrigar seus escritórios. Otavio Zarvos, um dos sócios da empresa, contou que o projeto é antigo, mas ganhou fôlego nos últimos meses. “Alugamos nossos prédios para a indústria criativa e havíamos identificado um público flutuante grande”, afirmou Zarvos à DINHEIRO. “Fizemos isso em menor escala, reservando as coberturas em edifícios comerciais para fins residenciais. Agora, estamos invertendo a lógica.”

O contrato mínimo é de um mês, e a estadia em um apartamento de 70 m², com um quarto grande e sala apta a receber visitas, custa R$ 9,5 mil por mês. O valor contempla o aluguel e o pacote de serviços, como condomínio e internet, e é tudo cobrado em uma conta única. O design de interiores é assinado por um arquiteto, e várias peças são selecionadas em antiquários.

Atualmente, a Paulistano tem apenas 18 unidades, oito lofts no edifício Lacerda e dez coberturas no Harmonia 1250, ambos em São Paulo. Mas nos próximos quatro anos a incorporadora espera atingir a marca de 230 unidades disponíveis. Alguns edifícios inteiros para locação residencial já estão em obras. “A Paulistano é nosso balão de ensaio e a procura tem sido grande. Nunca havíamos feito apartamentos para alugar, ainda mais mobiliados. Com a escala reduzida podemos acertar todos os detalhes para garantir que a operação seja confortável sem perda de qualidade”, afirmou Zarvos.

A proposta da startup mexicana Casai (abreviação de Casa Inteligente), que desembarcou no Brasil em maio deste ano, também é atrair os clientes preocupados com uma experiência mais sofisticada – e tecnológica. Toda a contratação é feita via site ou aplicativo, e o viajante pode escolher entre as cerca de 100 unidades já disponíveis no Brasil, todas em bairros nobres de São Paulo. As diárias custam entre R$ 200 e R$ 700, dependendo do tamanho do apartamento. Além de São Paulo, a proptech atua na Cidade do México e deve anunciar o início das operações no Rio de Janeiro em breve. Em seu site, algumas unidades já estão disponíveis na capital fluminense.

De acordo com Luiz Eduardo Mazetto, general manager da operação brasileira, a Casai explora o conceito de bleasure, expressão em inglês que combina business e pleasure (negócios e prazer). São os viajantes que precisam se deslocar profissionalmente, mas querem aproveitar a oportunidade para conhecer a cidade. O app oferece um guia de recomendações elaborado a partir de dicas de empresários, arquitetos e artistas plásticos daquela cidade. “Queremos oferecer consistência e um elemento de localidade”, afirmou Mazetto.

Cada unidade está equipada até com dispositivos inteligentes, como o Google Home e fechaduras eletrônicas, e amenidades, como cervejas artesanais locais na geladeira. A escolha dos móveis também leva em conta o estilo de cada cidade, e a startup recebeu uma medalha de ouro no prêmio Muse Design Awards deste ano na categoria design de interiores. “A gente diz que nossos melhores vendedores são os próprios clientes. Se a gente não oferecer uma boa experiência, não conseguimos recorrência.”

“Há uma geração de gente mais nova que viaja bastante e precisa de mobilidade, mas não se identifica com hotéis ou flats” Otavio Zarvos, sócio da Idea!Zarvos

NOVO JEITO DE MORAR Tanto a Paulistano quanto a Casai estão em busca de um nicho específico no concorrido mercado imobiliário brasileiro. Ambas focam em uma experiência premium, oferecendo design de interiores sofisticado e a possibilidade de se hospedar em regiões nobres. Quem busca apenas um modelo diferente de aluguel encontra um leque grande de opções. A Loft atua no segmento de locação com a marca Nomah, comprada em 2020. Ela concorre com a Housi, que oferece um modelo de “casa por assinatura” e é responsável por gerir o aluguel de imóveis de terceiros. E a incorporadora JFL também tem a marca JFL Living, que oferece unidades mobiliadas para locação. Todas querem estar preparadas, de um jeito ou de outro, para o futuro que pode ser marcado pela mobilidade.