O mundo do luxo está crescendo com a união dos mercados de produtos de primeira e segunda mão. O vintage é tendência nesta era em que a procedência da roupa é tão — ou mais — importante que o visual, e isso está impulsionando o segmento de peças usadas que deve movimentar US$ 84 bilhões até 2030. O volume é o dobro das projeções para o universo do fast fashion, segundo a plataforma Thredup com dados do Global Data. No Brasil, o grupo Iguatemi enxergou a oportunidade e acaba de mergulhar no universo da moda circular com a aquisição de 23% da Etiqueta Única, plataforma que intermedia a venda de artigos grifados de segunda mão, por R$ 27 milhões.

Durante a pandemia, o comércio eletrônico foi fundamental para alavancar a cultura do reuso, uma descoberta relativamente recente no País. Além da reduzir o impacto do consumo desenfreado no meio ambiente, a vantagem financeira nas plataformas de usados é indiscutível: produtos de grifes são comercializados a preços que chegam a 10% do valor original — barganha que está atraindo cada vez mais pessoas para esse mercado —, além da chance de encontrar raridades como criações de Tom Ford para a Gucci.

Por aqui, a Etiqueta Única se consagrou com um portfólio formado por mais de 65 mil artigos de luxo de 600 labels como Chanel, Hermès, Louboutin e Louis Vuitton, além de grifes nacionais como Lolitta e Reinaldo Lourenço. Criada em 2013 pelo casal Nelson e Patricia Barros, a plataforma foi uma das pioneiras neste segmento no País. Com a recém-firmada aliança com o Iguatemi, a ideia é expandir o ciclo de vida dos produtos no segmento de luxo e alcançar mais brasileiros.

Para o CEO da Etiqueta Única, Nelson Barros, os negócios são complementares. “O mercado de primeira mão fomenta a economia enquanto o de segunda mão promove o consumo sustentável”, disse à DINHEIRO. Como diferencial competitivo, a empresa criou um sistema próprio que garante a autenticidade dos produtos vendidos no seu site. A equipe recebe imagens dos produtos e sempre que necessário inspeciona fisicamente as peças para checar a origem. “A pirataria é um dos maiores desafios, por isso nosso principal objetivo é a garantia de procedência”, afirmou Barros. Verificações feitas, recuperam as peças para que sejam vendidas em seu melhor estado.

No cenário internacional, a maior referência do modelo que a Etiqueta Única segue é o site americano The RealReal.Fundado em 2011 é um dos maiores do mundo no comércio consignado de produtos de luxo de segunda mão. Um time de especialistas conduz a jornada dos vendedores com consultoria personalizada de desapego, coleta dos itens, verificação de origem, restauração das peças e até sugestão de preços. A comissão do serviço premium pode chegar a 50% do valor da venda. A fama da marca garante a fidelidade de artistas e socialites que não abrem mão de trabalhar com a The RealReal.

MUNDO FÍSICO Junto ao grupo Iguatemi, a perspectiva da Etiqueta Única é acelerar a estrutura para entrar no varejo físico, com pontos de atendimento ao cliente em alguns dos principais endereços do luxo no Brasil. “A ideia é que as pessoas possam fazer avaliações, retiradas e tenham acesso a outros benefícios”, disse Barros. O objetivo do negócio é ampliar sua base. Os usuários que compram e vendem usados formam um grupo característico dessas plataformas e são eles os responsáveis por formar comunidades com engajamento e consumo bem acima da média no mercado.

Além do novo aplicativo, que elevou o nível de personalização e de experiência com a marca, a Etiqueta Única pretende estender a parceria com o Iguatemi 365, e-commerce do grupo, para atrair mais vendedores ao ecossistema. O programa oferece um bônus de 10% sobre o valor ganho com as vendas na plataforma para quem usar seu saldo na compra de produtos novos e grifados do Iguatemi. Graças ao modelo de sucesso e ao amadurecimento do seu público, a marca criada pelo casal Barros se prepara para atravessar novas fronteiras e atuar também no comércio de obras de arte, móveis e peças de decoração.