(Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, em discurso na cerimônia de posse do novo diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, que o novo tratado com o Paraguai para a usina hidrelétrica levará em conta a responsabilidade do Brasil como maior país da América do Sul em ajudar seus vizinhos a crescer.

“Nós iremos fazer um tratado que leve muita em conta a realidade dos dois países e o respeito que o Brasil tem que ter pelo seu aliado Paraguai”, disse Lula.

“Faremos um novo tratado que será muito benéfico para a manutenção do desenvolvimento do Paraguai, do desenvolvimento do Brasil, e para a manutenção dessa relação cordial e harmoniosa do povo brasileiro e o povo do Paraguai.”

Com a quitação neste ano da dívida de construção de Itaipu, os governos do Brasil e Paraguai devem iniciar formalmente as negociações para revisar o chamado “Anexo C” do Tratado de Itaipu, que estabelece as bases financeiras da tarifa da energia gerada pelo empreendimento.

Pelos termos vigentes, cada país tem direito a 50% da energia de Itaipu. No caso do Brasil, ela é comercializada num sistema de cotas a distribuidoras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Já o Paraguai cede uma parte de sua energia ao Brasil, a um determinado preço, já que não consome tudo a que tem direito. Essas condições estão sujeitas a revisão a partir deste ano, com o término da dívida.

Autoridades dos dois países já vinham conversando sobre o tema nos últimos anos. No caso do Brasil, a administração anterior de Itaipu chegou a traçar seis cenários para basear as discussões, que envolvem desde manter as condições do Anexo C exatamente como as atuais, até permitir que Itaipu possa comercializar energia no ambiente de contratação livre (ACL).

Lula também afirmou que fortalecerá o Mercosul para elevar o poder de negociação do bloco regional.

“O Brasil, como irmão maior dos países da América do Sul, tem que ter a responsabilidade de fazer com que os outros países cresçam junto conosco”, afirmou. “Volto com o compromisso de fortalecer o Mercosul, porque já está provado que juntos nós temos força para negociar, separados nós somos muito frágeis, e por isso é preciso estar junto”.

HIDROGÊNIO

Lula ainda disse que espera tornar possível em breve a produção de hidrogênio verde a partir das águas do reservatório da hidrelétrica.

“Quando vejo Itaipu vertendo água eu imagino quanto de dólar a gente tá perdendo… Quem sabe em um futuro muito próximo a gente estará produzindo hidrogênio verde desta água de Itaipu e a gente estará ganhando dinheiro nas duas pontas”, afirmou o presidente.

O hidrogênio verde desponta como um importante combustível alternativo no processo de transição energética e combate às mudanças climáticas, já que tem potencial para reduzir a emissão de gases poluentes de diversos setores. Ele pode ser obtido a partir da eletrólise da água utilizando-se energia elétrica de fontes renováveis.

O Brasil é visto como um importante agente para desenvolver esse mercado, pois tem a vantagem de possuir uma matriz elétrica mais de 80% renovável.

Várias empresas vêm lançando projetos na área, se posicionando principalmente na costa, em portos como Pecém (CE) e Açu (RJ), mirando o mercado de exportação de hidrogênio verde para a Europa. O projeto mais avançado no Brasil é da química Unigel, cuja planta em construção na Bahia deverá estar operacional no final deste ano.

(Por Fernando Cardoso e Letícia Fucuchima, em São Paulo)

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