É clara e cristalina a expectativa do mercado após a decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Lula: ele teme a polarização nos extremos radicais nas eleições majoritárias de 2022. Nenhum dos dois potenciais candidatos, Bolsonaro e Lula, são tidos como alternativas capazes de conduzir o País ao prumo econômico. Ao contrário: ambos, até pelo que entregaram, foram encarados como desestabilizadores, adeptos de medidas populistas que afetam o perfeito ordenamento das contas e planos liberais. As decisões de Bolsonaro, atrapalhando as reformas estruturais, retardando o programa de privatização e negando o valor da vacina como força motriz para reativar o desenvolvimento — sem contar os movimentos na área ambiental, estimulando queimadas e desmatamentos, em dissonância com a orientação esperada entre investidores do mundo —, sacramentaram a impressão de que ele não será capaz de colocar o Brasil no trilho. Poderá até empurrá-lo para um processo de venezuelização, com descontrole inflacionário, do desemprego e a fuga de capitais e empresas. Algo que efetivamente já começou a ocorrer. Do mesmo modo, Lula, após o aparelhamento sindical do Estado, desvios em massa durante seus mandatos e crimes de diversas naturezas, não conta com credibilidade alguma para levar adiante um projeto considerado atraente pelo capital. Lula e Bolsonaro, faces de uma mesma moeda, parecem ser encarados como o pior dos jogos nos pregões. E os indicadores nos dias seguintes ao enunciado de Fachin mostraram isso. Em um cenário no qual salvadores da pátria se projetam, as chances de medidas populistas aumentam. E é o que já se verifica em Brasília. Nos gabinetes do Planalto, a primeira avaliação é a de que o governo irá incrementar as ações junto a camadas de baixa renda para garantir a popularidade do capitão frente à do demiurgo de Garanhuns. O Auxílio Emergencial, em valores fora do suportável nas contas públicas, será apenas a primeira das etapas. O mandatário já discute com assessores a possibilidade de ampliar o universo de atingidos pelo programa. Também pediu “respostas urgentes” para a adoção de um “Bolsa Família” maior. Ele pretende se apresentar como aquele que “mais fez pelo povo brasileiro”. Nessa disputa, o teto de gastos deve ir às favas. A guerra eleitoral binária, em início de construção, pode desarranjar os esforços do Ministério da Economia para colocar o caixa em dia. Ficam em risco ajustes fiscais e de natureza administrativa — que geram sempre resistência por parte dos eleitores. Com o resgate dos direitos políticos de Lula, tornando-o elegível, o panorama completo do País sofrerá mutação e cada escolha governamental será pautada pela variável do combate presidencial já em curso. No mínimo, a agenda de reformas ficou comprometida. Outra das áreas que deve sentir ainda mais a interferência de Bolsonaro após a volta do arquirrival Lula ao páreo presidencial é a da política de tarifas públicas. Ninguém conseguiu ainda convencer o capitão a não meter a mão nessa cumbuca. Ele segue convencido de que deve adotar, abertamente, uma intervenção forte nos preços dos combustíveis, gás de cozinha, luz e outros sob controle do governo. Seria uma forma a mais, ele acredita, de conquistar a simpatia de setores incomodados com a alta do custo de vida. No extremo, Bolsonaro pensa até em conceder desconto no Imposto de Renda a depender da faixa de ganhos. Técnicos da economia estão assustados com o leque de possibilidades de aumento de custo e encolhimento de receitas pretendido pelo capitão. Ele não está preocupado com o fluxo de caixa, muito menos com o questionamento sobre “de onde virá o dinheiro”. A quem o pergunta, ele responde com o genérico “depois a gente vê”.

Carlos José Marques, diretor editorial