O combustível está inegavelmente caro, pesa no bolso dos brasileiros e empurra a inflação para as alturas. O problema, na minha avaliação, é considerar a Petrobras culpada pela situação e concluir que a solução mágica estaria numa intervenção na empresa. Perigo: Lula e Bolsonaro acham isso.

Na noite desta segunda-feira 23, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a terceira troca no comando da Petrobras desde 2019. Bolsonaro está inconformado com os reajustes de preços e já classificou de “estupro” o lucro bilionário da empresa. Não está claro se o novo presidente, cujo nome ainda precisa ser ratificado em uma Assembleia Geral Extraordinária do Conselho de Administração, vai assumir com a missão de alterar a política de preços da petroleira adotada desde o governo Temer.

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Ao contrário do que muitos podem imaginar, o presidente da empresa não tem autonomia para congelar preços de combustíveis. Se o fizer, certamente responderá judicialmente no Brasil e nos Estados Unidos, onde papeis da Petrobras também são negociados. Quem teria coragem de colocar em risco o seu patrimônio pessoal? Os três presidentes anteriores não ousaram cometer tamanha insanidade.

Enquanto isso, o ex-presidente Lula promete “abrasileirar” o preço dos combustíveis, desatrelando o petróleo de sua cotação internacional em dólar. Obviamente é uma proposta populista e estapafúrdia, cujo objetivo só pode ser enganar os eleitores. Qualquer tentativa de manipular os preços causará o afastamento das empresas privadas e um desabastecimento no mercado, além de prejuízos aos cofres da Petrobras. A conta será novamente paga pela sociedade.

Não há solução mágica. O fim da guerra da Rússia na Ucrânia poderá, no futuro, trazer alívio nas cotações do petróleo. Além disso, se o Brasil avançar com as reformas no Congresso, o dólar ficará mais barato por aqui, aliviando os preços. No curto prazo, só há um caminho para baratear os combustíveis. Sugiro utilizar os bilionários dividendos pagos pela Petrobras à União para subsidiar o diesel, com impacto direto nos fretes. Isso beneficiaria uma sociedade cuja abastecimento depende demasiadamente do transporte rodoviário. O resto é populismo eleitoral.