Poucas coisas são tão previsíveis quanto os políticos em ano eleitoral. Munido de algumas frases feitas, o ex-presidente Lula resolveu falar de economia, mas desta vez direcionou seu discurso aos farialimers (seleto grupo de engravatados que trabalham no sistema financeiro e caíram no conto do vigário em 2018). A eles, Lula disse que o mercado precisa se relacionar melhor com o restante da economia, que taxar grandes fortunas faz sentido, mas revisar o imposto sindical também faz. Reforçou que não teria problema algum em governar ao lado de Geraldo Alckmin e que o objetivo não é opor pobres e ricos, mas entrosar. E se o petista mirava apenas o mercado, a bala ricocheteou e também acertou o Palácio do Alvorada. Horas depois da entrevista de Lula, Bolsonaro afirmou que a volta do PT seria “o fim do mundo”, em uma fala apocalíptica e pouco profunda ­­­— como quase todo discurso político em ano eleitoral.

CORRIDA PRESIDENCIAL 2
O homem do presidente

Ilustração: Evandro rodrigues

Parece que um dos principais comandantes avançados na batalha do presidente JB pela reeleição está escolhido: Ciro Nogueira, o ministro-chefe da Casa Civil. Um ser calejado no que a gente chama de política brasileira. É neto, sobrinho, filho de políticos. Em 2017, ele chamou Bolsonaro de “incapaz de governar” e “fascista”. Na mesma entrevista, disse que Lula foi “o melhor presidente da história” e “não me vejo votando contra ele”. Numa prova de que seu teflon ideológico é vigoroso, agora Nogueira bate no PT. Usou para isso dois artigos, um no domingo (16), no jornal O Globo, e outra na segunda-feira (17), na Folha de S.Paulo. No primeiro, afirmou que “com o PT, faríamos uma guinada para a Venezuela, para a Argentina ou para a Bolívia”. No texto na Folha abordou o atual discurso petista. “O PT tenta clonar a estratégia do Gabriel Boric (jovem político de esquerda recém-eleito presidente do Chile) de radicalizar no primeiro turno para moderar no segundo”. Segundo Ciro Nogueira, “o desastre econômico de 2015-2016 não pode ser retirado da história do partido”. Talvez ele tenha razão em todas as afirmações, incluindo as de 2017 sobre seu atual chefe.

BOMBA NOS COMBUSTÍVEIS
Jogo de empurra no ICMS

De uma coisa não se pode reclamar do ocupante da cadeira de primeiro-ministro (de fato) do Brasil, Arthur Lira (PP-AL). Sua fidelidade ao presidente JB é canina. Preocupado com a bomba chamada inflação, que tem no preço dos combustíveis seu calcanhar-de-aquiles, no domingo (16) ele culpou o Senado e os governadores pelo preço elevado dos combustíveis. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reagiu em 24 horas e determinou que Jean Paul Prates (PT-RN) seja o relator de um
projeto a ser apresentada no começo de fevereiro. Se der certo, levará os méritos. Se der errado, culpará a relatoria do petista — Pacheco é potencial candidato à Presidência. A proposta deverá se basear em congelamento do ICMS cobrado pelos estados. O problema é que isso pode sangrar os cofres públicos regionais, já que o tributo responde em média por 10,9% da receita estadual — em alguns casos chega a 20%.

7% foi a inflação nos EUA entre dezembro de 2021 até o final de 2022, no primeiro ano do governo Joe Biden

A TRAMA PARA 2022
Série sobre assassinato de Celso Daniel vira agenda política

Estreia na quinta-feira (27) no Globoplay a série de oito episódios O Caso Celso Daniel. Ex-prefeito de Santo André (SP) por três vezes, ele foi assassinado há 20 anos – seu corpo foi encontrado em 20 de janeiro de 2002, dois dias após ser sequestrado. Na época, era o coordenador de campanha de Lula. Considerado dos quadros mais avançados do PT, foi substituído pelo então obscuro Antônio Palocci. A polícia paulista avaliou o crime como comum. A cúpula petista concordou. Todos os envolvidos presos acabaram mortos. Para muitos, incluindo o presidente Bolsonaro, o crime foi uma espécie de queima de arquivo na tentativa de acobertar esquemas petistas. Quem acredita que esta eleição já está definida pode se surpreender. E a série deve ser outro ingrediente para apimentar a agenda.

TENSÃO NA EUROPA
Nova Alemanha endurece diálogo com a Rússia

Russian Foreign Press Service

Foi um embate digno de pesos pesados em Moscou, na terça-feira (18). De um lado, Annalena Baerbock, a nova ministra das Relações Exteriores da Alemanha. De outro, seu colega russo Sergei Lavrov. Tudo de forma presencial. Annalena tem 41 anos e disse que a Alemanha está disposta a pagar um preço econômico, e não apenas político, para endurecer sanções à Rússia caso haja um ataque à Ucrânia – há 100 mil soldados russos na fronteira dos dois países. Ela se refere a uma potencial retaliação de Moscou em relação ao recém-concluído gasoduto entre Rússia e Alemanha. Lavrov, um veterano de 71 anos que está no cargo há 18, respondeu que não existe ameaça alguma da Rússia contra a Ucrânia. Pelo contrário, exigiu que se encerre o que ele chamou de “linha anti-russa” por parte da União Europeia.

“O segredo da política? Faça um bom tratado com a Rússia” Otto Von Bismarck (1815-1898), Chanceler Alemão.

Evandro Rodrigues