A face mais visível das seguradoras no Brasil é a que está provocando as piores dores de cabeça nas empresas do setor. As estatísticas de roubo de carro dispararam e, como conseqüência, colocaram a carteira de seguros de automóveis da maioria das companhias no vermelho. ?Ninguém está ganhando dinheiro. A margem está próxima do zero ou negativa?, lamenta Julio Bierrenbach, diretor da Real Seguros. O executivo fala de cadeira: ele mesmo amarga perdas de R$ 6 milhões no primeiro trimestre do ano com as apólices para carros. O prejuízo eliminou todo o lucro obtido em outros tipos de seguro de propriedade, fazendo com que esse segmento fechasse o trimestre com resultado zero. A situação é tão grave que treze seguradoras já desistiram de atuar nesse mercado, e suas carteiras foram absorvidas pela Bradesco e pela Sul América.

Os dados sobre a ocorrência de sinistros são muito piores do que poderia imaginar o mais pessimista dos técnicos. No fim do ano passado, 35% do preço pago pelos segurados eram gastos com as indenizações em casos de roubo. Em 1998, essa parcela era de 28%. Os seguradores apostaram em uma redução no número de casos neste ano. A previsão saiu pela culatra: as ocorrências de roubo cresceram 10%. Surpresas como essa são mortais. Os índices de sinistros ocorridos em seguros de automóveis costumam ser previsíveis, o que permite às companhias definir preços e estratégia de venda. Saltos como esse desmontam todo o planejamento.

A expectativa era de apenas um pequeno crescimento no número de roubos na zona metropolitana de São Paulo e do Rio. Mas houve saltos dramáticos na Grande São Paulo, em Campinas, Santos, Belo Horizonte, Curitiba e na Baixada Fluminense. Em algumas seguradoras, como a Sul América, a escalada nos furtos de automóveis na capital paulista foi suficiente para inverter a lógica dos preços: os seguros agora são mais caros na capital paulista do que no Grande Rio, que deteve o duvidoso título de campeão do crime durante a década de 90.

Mesmo companhias que não mexeram na tabela de preços detectaram essa tendência e tentaram reagir. A Marítima manteve os preços nos mesmos níveis, mas tentou reduzir as perdas em Campinas, no ABC paulista e na Capital oferecendo aos associados a instalação gratuita de trancas antifurto Mul-T-lock. Iniciada em setembro do ano passado, a promoção deverá ser cancelada em breve. ?As trancas diminuíram o número de roubos, mas não o bastante para compensar o que investimos nelas?, explica José Carlos de Oliveira, diretor operacional da companhia. Resultados tão ruins podem ser absorvidos por companhias grandes, mas, para as pequenas, são fatais e transformam a carteira de automóveis em um mico.

?Se eu fosse pequeno desistiria desse ramo?, diz Júlio Avellar, vice-presidente da área de automóveis da Sul América. É o que vem acontecendo. Empresas com fôlego financeiro curto ou sem tradição nesse mercado estão saindo do ramo de automóveis, para não seguir subsidiando uma operação não rentável. Os negócios acabam sendo repassados para líderes do mercado. Para as grandes, não existe a possibilidade de saltar fora do ramo ? apesar do mau desempenho financeiro, a venda do produto é requisito indispensável para atrair consumidores para dentro da companhia. ?Eu não poderia pedir para o cliente fazer um seguro de vida ou de casa se eu não aceitasse apólices de automóveis?, justifica Bierrenbach, da Real. Enfim, o produto que deveria ser a mais importante fonte de receita, virou apenas uma arma de marketing.