NEM TUDO É SOMBRIO EM TEMPOS DE IBOVESPA abaixo de 40 mil pontos. No ziguezague diário dos gráficos, alguns investidores têm tirado proveito da oscilação acionária e alcançaram ganhos superiores àqueles obtidos quando o índice flutuava tranqüilo na casa dos 60 mil. Operações de day trade (compra e venda em um mesmo dia) e swing trade (compra e venda em um intervalo de dois a cinco dias), consideradas arriscadas para o investidor inexperiente, proporcionaram momentos de alegria aos que tiveram o sangue- frio para negociar quando os pregões apontavam 15% de alta em um dia e 10% de queda em outro, como ocorreu na semana passada. Para esses investidores, grandes oscilações, sejam elas para cima ou para baixo, não são obrigatoriamente negativas. “Volatilidade não é queda. Para operações de curtíssimo prazo, é até bem-vinda”, diz o investidor paulistano Rogério Kirschbaum, médico que abandonou a profissão para se tornar operador e hoje ganha a vida no mercado de ações.
Os ganhos de Kirschbaum com a crise são apenas uma amostra de como é possível garantir rentabilidade em dias de maior tensão no mercado. Suas operações de day trade no mercado à vista e no mercado futuro costumavam render-lhe de 0,5% a 1% de rentabilidade ao dia. Nos últimos meses, os ganhos subiram para 3,5% a 4%. “A crise não foi ruim para quem sabe operar day trade e opções. Nesse mercado de derivativos, os prêmios das opções ficaram ainda mais interessantes”, diz. Mas nem tudo é tão simples na vida de um day trader. Se suas operações não duram mais que 15 minutos em frente ao home broker, o sistema de negociação autônoma pela internet, o mesmo não se pode dizer do tempo que o investidor passa montando sua estratégia de operação. “O day trader não quer ficar rico em um dia. É preciso ter um plano bem montado, uma estratégia que aponte os pontos de entrada e de saída da operação”, explica. Segundo Kirschbaum, é um trabalho de formiga e que acontece pouco a pouco, assim como a rentabilidade de cada dia. “É preciso controlar a ganância. Ver o mercado subir 10% e saber que você só vai ganhar 1% não é fácil”, diz ele, que opera apenas com blue chips e contratos de boi gordo e café.
Para as operações de prazo mais estendido, como swing trade, os dias críticos da Bolsa fizeram o investidor mineiro Juliano Palmieri obter até 6% de rentabilidade por operação. Seguidor de análise gráfica, ele só investe em papéis da Vale e Petrobras. Suas operações duram até três dias. “A crise foi bem favorável para a minha carteira. Diminuí meu capital em renda variável para controlar a exposição ao risco, e mesmo assim a rentabilidade foi maior”, diz. Palmieri explica a estratégia. Antes da crise, ele mantinha 60% de seu capital em renda variável. Agora, apenas 30%. Mesmo assim, a rentabilidade total de seus investimentos aumentou. Somando renda fixa e variável, ele conseguia 4% ao mês. Agora, sua carteira chega a ter ganhos mensais de 8%. “Embora eu faça operações de curto prazo, evito o risco ao máximo. Agora, apesar de ser um bom momento para ganhar, também é muito arriscado”, pondera.
Viver a adrenalina do mercado não é para qualquer um. Alexandre Jorge Chaia, professor do Ibmec São Paulo, só recomenda tais operações para quem trabalha em tesourarias de bancos ou fundos de investimento. “Day trade requer um acompanhamento contínuo e acesso a informações que nem sempre chegam a tempo ao investidor pessoa física”, explica. Chaia não acredita que a análise gráfica seja suficiente para pautar tais operações e que o investidor corre sério risco de perder muito dinheiro. Por isso, todo o cuidado é pouco.