Aconteceu na semana passada: enquanto representantes de 184 países, inclusive do Brasil, discutiam em Haia, na Holanda, maneiras de salvar o planeta dos efeitos do aquecimento global, empresários brasileiros contabilizavam investimentos de R$ 2,8 bilhões na área ambiental. O número, válido para o próximo ano, representa uma verdadeira revolução verde na indústria nacional. Nos três últimos anos, ela investiu em média bem menos, cerca de R$ 1,6 bilhão. A mudança de patamar reflete a preocupação crescente do empresariado nacional em descobrir fontes alternativas de energia, assim como obter ganhos com economia de materiais usados nos processos produtivos e reduzir os custos com multas provocadas por vazamento de produtos tóxicos no meio ambiente. ?O empresário está descobrindo que buscar alternativas energéticas e ser ecologicamente correto pode ser bom negócio?, diz João Furtado, consultor ambiental para empresas. ?Na nova economia de fontes renováveis, o Brasil será uma superpotência porque tem os recursos naturais necessários?, disse à DINHEIRO Christopher Flavin, diretor do Worldwatch Institute, uma ONG americana que estuda as fontes renováveis de energia.

Ao contrário do discurso ecológico dos anos 70, que pregava a necessidade de frear o desenvolvimento para proteger o meio ambiente, as empresas estão mostrando agora que é possível lucrar e crescer sem abrir mão de princípios ambientais. Exemplo: a companhia Melhoramentos, fabricante de papel e celulose, está investindo em pesquisas sobre fontes alternativas de energia, como a eólica. ?É preciso substituir o processo de combustão por outras fontes de energia?, diz Ingo Plöger, diretor da Melhoramentos. Para o ano que vem, o grupo vai investir R$ 30 milhões em pesquisas. O trabalho, em parceria com organizações não-governamentais ? antes consideradas inimigas mortais dos empresários ? também está sendo priorizado. Para o ano que vem, a Melhoramentos vai lançar um livro junto com o Greenpeace. O livro será de papel reciclado e terá informações sobre procedimentos ecologicamente corretos. O acordo com os radicais ambientalistas foi possível porque a Melhoramentos tem o papel com o menor índice de cloro do País e está investindo no reflorestamento de suas áreas de plantio, forma encontrada pelo grupo para resgatar o CO2 do meio ambiente.

 

 

Termoelétrica. Na busca de fontes alternativas de energia, a Companhia Siderúrgica Nacional está investindo em centrais termoelétricas, que reaproveitam o calor gerado pelos altos fornos da indústria e o transforma em energia. Elas geram hoje 230 megawatts de potência, equivalentes a 13% do consumo da empresa. Até agora o investimento foi de R$ 564 milhões. ?A economia é de R$ 6 milhões por mês?, festeja Luiz Cláudio Castro, gerente de Meio Ambiente da CSN. Em outros programas ambientais, o grupo vai investir R$ 180 milhões até novembro de 2002. Outro foco da companhia é a produção limpa, que não gera resíduos ou então os reaproveita. Lucros a caminho, no ano que vem o grupo vai trabalhar a imagem de empresa cidadã perante a sociedade. Estão programadas medidas compensatórias à cidade de Volta Redonda pela sujeira produzida no passado. A empresa vai duplicar a estação de tratamento de esgoto e construir um aterro sanitário. ?A única forma de resolver problemas ambientais é enfrentando seu contexto econômico?, diz Flavin, do Worldwatch. ?É mais trabalhoso, mas as empresas estão percebendo que vale a pena.?

As multas impostas pelo governo também têm levado os administradores a terem mais cuidado ambiental e evitar derramamentos. Desde a implantação de um sistema para conter vazamentos, há dois anos, a multinacional americana Dow Química reduziu para menos da metade o pagamento de multas. Em 1996, a empresa pagou em reais o equivalente a R$ 3,2 bilhões em multas por danos ao meio ambiente. No ano passado, as multas foram de R$ 695 milhões. Enquanto o setor químico traça metas, o governo força a fiscalização em outros segmentos. Depois das pilhas e baterias de celulares, o Conselho Nacional do Meio Ambiente pretende estender a responsabilidade ambiental também aos fabricantes de lâmpadas de mercúrio e plástico. A briga promete ser dura. Os fabricantes de lâmpadas já disseram que terão que aumentar o preço do produto em até 60%, caso tenham que recolher o material inutilizado. Os de plástico afirmam que não podem ser os únicos responsáveis pelo lixo plástico, e cobram uma ação conjunta da sociedade e do governo. A meta é estender a cultura da reciclagem do alumínio aos plásticos, mas para isso há necessidade de superar a barreira do preço. Para incentivar catadores, as empresas de reciclagem de lata pagam de R$ 1,20 a R$ 1,60 o quilo. O setor plástico paga apenas R$ 0,09. Algo terá de mudar.