A queda da taxa básica de juros, que de 2015 para cá despencou de 14,25% para 7,50% ao ano, corroeu o retorno de boa parte dos fundos de investimento em renda fixa, como já era de se esperar. Essa desvantagem não foi, porém, suficiente para reduzir as taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras por essas aplicações.

Segundo levantamento do Estado com base no banco de dados da Anbima, associação que representa o mercado de capitais, o efeito foi contrário ao esperado: houve uma alta nas taxas dos fundos que mais perderam rentabilidade.

No confronto de janeiro de 2016 com setembro deste ano, a taxa média de retorno de um fundo de renda fixa simples caiu de 12,5% para 7,06% ao ano. Já a taxa de administração cobrada pela empresa que faz a gestão do investimento subiu de 0,71% para 0,83% no período.

Os fundos de renda fixa simples são os que têm, no mínimo, 95% de seu patrimônio líquido em títulos da dívida pública federal, títulos de renda fixa ou operações compromissadas lastreadas em títulos do tesouro.

O mesmo descompasso entre taxas e retorno financeiro foi observado nos fundos de renda fixa indexados, que acompanham a variação de indicadores de referência do mercado de renda fixa.

Para o presidente da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Ancord), Caio Vilares, esse descompasso entre a rentabilidade e o preço cobrado pelas instituições pelos fundos é reflexo da falta de conhecimento do investidor brasileiro sobre a dinâmica do setor.

“Enquanto existir investidor que tope pagar caro por um produto com pouco valor agregado, o mercado continuará cobrando alto”, diz ele. “Na verdade, investir em um fundo de administração passiva em renda fixa não é diferente de ir no site do Tesouro Direto e fazer a aplicação sem essa taxa de administração”, destaca.

Já o sócio da Vokin Investimentos, Guilherme Macêdo, destaca que, na maioria dos países, as taxas de administração tendem a acompanhar os juros. Logo, como o Brasil tem, historicamente, juros altos, as taxas de administração são consequentemente mais elevadas e podem demorar mais a baixar. “A questão é: como a indústria de fundos fica com essa taxa de juros em torno de 7%?”, questiona.

Com a disputa com outros produtos, como fundos de renda variável, aumentando, os gestores de renda fixa, mesmo os que não têm trabalho constante de administração da carteira de ativos, terão de se movimentar para entregar mais resultado ou poderão sofrer com a fuga de investidores. Nem a inflação menor, que aumenta a sobra no bolso do investidor, deve garantir a atratividade.

A possível restrição do porcentual de taxas de administração é citada por Guilherme Macêdo como outra mudança que pode elevar a competição entre os fundos. Se aprovado, o Projeto de Lei 3648/15 vai limitar a 1% a taxa de administração cobrada pelos fundos de investimentos.

“A tendência é que o custo por performance aumente, com os fundos cobrando menos de taxa de administração, mas aplicando um porcentual sobre a rentabilidade que eles entregarem. Com isso, os gestores vão buscar melhores resultados”, afirmou.