O casamento se deu entre duas empresas muito diferentes. Mas, acima de tudo, pode-se dizer que foi uma grande sacada. Há menos de duas semanas, a Lucent Technologies, que atua na área de telecomunicações, fechou uma aliança de US$ 180 milhões com a Eletronet, empresa do setor de energia surgida dentro da estatal Eletrobrás. A Lucent embolsará a bolada para instalar uma rede de 22 mil quilômetros de banda larga por todo o País, chegando às 100 maiores cidades e atingindo 94% da população. Em março do próximo ano, quando o trabalho estiver pronto, a Eletronet será dona de uma poderosa rede de telecomunicações turbinada por fibras ópticas, correndo paralelamente aos fios das torres de eletricidade. O sistema terá capacidade de transportar um volume monstruoso de informação, que só poderá ser mensurado em Terabits (para se ter uma idéia do que isso representa, o tráfego total de voz no mundo durante um segundo fica em torno de 1 Terabit). Um único cabo possui 36 ou 48 fibras, e cada uma delas pode suportar 58 milhões de ligações telefônicas por segundo. É como se o falatório de um terço da população brasileira passasse por um único fio. Com essa rapidez, a rede estará apta para transportar pacotes pesados, seja na forma de voz, de imagens ou de dados computacionais. Um produto voltado, portanto, para as operadoras de telefonia e grandes provedores de Internet. ?Quando estiver em operação, ela será uma rede nacional a nascer 100% fibra óptica?, afirma Marco Barcellos, gerente de comunicação e marketing da Eletronet. Ponto para a Lucent.

Surgida em 1996, a companhia americana é descendente da AT&T, gigante que monopolizava as telecomunicações nos Estados Unidos. A natureza da sua área de atuação faz com que ela não seja muito conhecida pelo consumidor final. Com cabos e computadores de altíssima complexidade, a Lucent se encarrega por traçar todo o percurso que une dois pontos distantes, que podem ser telefones, aparelhos celulares ou computadores. Além disso, se aparece um congestionamento de dados no meio do caminho os equipamentos da Lucent imediatamente indicam o desvio a ser percorrido. Quando desembarcou no País em 1997, a empresa se aproveitou da demanda reprimida pelas linhas de telefonia fixa. Em seguida, mergulhou de cabeça na onda dos telefones móveis. Antes das privatizações, a empresa fornecia 7% de todo equipamento necessário para que os celulares operassem. Com a desregulamentação, a Lucent passou a fornecer 25% de tudo, atendendo clientes como Telesp Celular, Tele Celular Sul e Telefônica Celular. A próxima onda, apostam seus executivos, virá no cabo luminoso das fibras ópticas. E o contrato com a Eletronet é o início dessa nova etapa.

Tanto é que, no próximo dia 7, a empresa estará inaugurando uma nova fábrica, uma extensão da sua unidade em Campinas, interior de São Paulo. Nessa nova instalação, os funcionários estarão unindo e inserindo as fibras luminosas dentro dos cabos especiais. A obra consumiu US$ 50 milhões, um quarto do que a empresa já investiu no Brasil nos seus três anos de casa. Pode até parecer muito, mas quando se comparam esses números com o retorno que a empresa vem obtendo, os investimentos quase desaparecem na penumbra. Isso porque a Lucent tem acumulado uma sucessão de ótimos negócios. Este ano, a companhia fechou com a Telemar um acordo no valor de US$ 300 milhões para um projeto que será encerrado em 3 ou 5 anos. ?Nos últimos oito meses, nós concluímos US$ 2 bilhões em contratos?, diz Renato Furtado, presidente da empresa no Brasil. No mundo, enquanto o faturamento cresce a 20% ao ano, no País esse avanço tem tido um fôlego olímpico. A cada ano fiscal que se completa, a empresa tem registrado um crescimento de 100% no seu faturamento. E pretende continuar assim, na velocidade da luz. De acordo com a Anatel, entidade que controla o setor de telecomunicações, o mercado movimentará US$ 112 bilhões até 2005. Quanto a Lucent pretente abocanhar desse bolo? ?Se for possível, queremos ele todo?, diz Furtado.