Com referências históricas na Toscana desde o século 12, o Castello di Ama ganhou uma nova imagem graças à proprietária Lorenza Sebasti. À qualidade dos vinhos (Ama já foi vinícola do ano, pelo Gambero Rosso, por exemplo), somaram as obras de artistas contemporâneos, como Michelangelo Pistoletto , Cristina Iglesias e Anish Kapoor, espalhadas pelo vinhedo e pela vinícola.

A coleção começou em 1999, pela paixão de Lorenza pela arte contemporânea. Primeiro, ela convidou Michelangelo Pistoletto para criar uma obra na propriedade. “A ideia é que os artistas se inspirem pelo terroir, assim como os nossos vinhos”, conta Lorenza, com entusiasmo. Pistoletto escolheu a entrada da adega antiga para a sua exposição. No ano seguinte, convidou Daniel Buren, que criou uma imensa parede de vidro, que reflete os vinhedos, no jardim. E, assim, a cada ano, Lorenza foi contratando artistas para criarem obras que, de alguma forma, interagissem com o Castello. “Convidamos os artistas a nos visitarem e eles são livres para criar o que quiserem”, conta ela.

A coleção nasceu particular, mas não demorou para Lorenza começar a receber pedidos de amantes de vinho para visitar, não apenas a vinícola, mas também as obras de arte. Em 2009, Lorenza abriu a vinícola aos visitantes (é preciso agendar previamente) e atualmente ela fala, com desenvoltura, não apenas sobre os vinhos, mas também sobre as obras, como ela conta a seguir, nesta entrevista.

Qual é a sua responsabilidade nos vinhos do Castello di Ama?
Marco Pallanti (o enólogo e marido de Lorenza) e eu dividimos um monte de decisões, mas a enologia é responsabilidade dele. Claro que provamos juntos, conversamos muito. Gosto de dizer que só fazemos os vinhos que amamos. Estamos sempre procurando a pureza, o finesse, o autêntico espírito do Castello di Ama.

Qual a sua opinião sobre a sangiovese?
Sou absolutamente apaixonada pela uva. Ela tem uma grande finesse e uma acidez, que convida a beber outra taça. A sangiovese e a pinot noir são as únicas uvas que nunca vou parar de beber. Os vinhos precisam ter um balanço entre acidez, álcool e seus taninos. Tem vinhos que são muito alcóolicos, ou muito frutados, outros que tem muito de tudo. O vinho que eu amo é aquele que traz, de forma muito precisa, o seu território, a paisagem.

Mesmo com referências histórias, o Castello di Ama é uma vinícola relativamente nova, fundada por quatro famílias em 1970. Desde este início, o que mudou na sangiovese?
Quando eu descobrir a sangiovese, nos anos 1980, os tempos eram mais difíceis, estávamos procurando mais madurez das uvas, os vinhos eram mais tânicos. Com o tempo, chegamos ao melhor trabalho nas vinhas, a não deixar a super maturação das uvas. Se tirar uma foto das vinhas nos anos 1980 é muito diferente de hoje. Mudou o número de vinhas plantadas, a forma de conduzir, que antes os vinhedos eram mais altos. A seleção de clones foi muito boa. Agora temos um jardim, com as vinhas realmente lindas. Lembro que conversávamos sobre as grandes safras, sobre como seria a evolução dos vinhos. Hoje, eu provo os meus vinhos da década de 1990 e eu realmente gosto. Eles envelhecem bem.

Mesmo fã da sangiovese, o Castello di Ama tem outras variedades, tem o L’Apparita, um dos seus ícones, que é um merlot.
Temos cerca de 75 hectares de vinhos e 2/3 está plantado com sangiovese. Temos merlot, chardonnay, malsavia, trebbiano para o vin santo. Temos dois singles vineyard, o Bellavista e o La Casuccia, os dois tem 80% de sangiovese, mas o blend é diferente. O La Casuccia tem 20% de merlot, e o Bellavista, de malvasia negra. Mas a diferença destes dois vinhos está na sangiovese. Quando provamos a sangiovese de cada um destes vinhedos, nota-se claramente as diferenças, que vem pelo solo, pela exposição solar. E nisso a sangiovese é muito similar à pinot noir. O terroir é a chave.

A arte te ajuda a entender o vinho de uma maneira diferente?
Arte é todo o dia, é minha vida. Assim como o vinho, que eu adoro provar diferentes vinhos, gosto de ver artes diferentes. Mas o Castello di Ama é o centro do meu mundo, e eu sou muito contemporânea. O Ama tem este acento, de ser contemporâneo e manter, ao mesmo tempo, a tradição.

Como surgiu a ideia de trazer artistas para os vinhedos?
Eu amo arte desde pequena. Com a arte, você sente o lugar. Não consideramos a arte como um marketing. Oferecemos o lugar para eles e os artistas são generosos em fazerem as suas criações. Atualmente, temos 16 obras, primeiro na adega, depois no vinhedo, na vinícola, em diferentes lugares.

Como acontece esta criação?
Convidamos o artista a nos visitar, ver se ele gosta do lugar, se tem química entre ele e a gente. Andamos pela propriedade, conversamos. Tem artistas que são rápidos, outros que demoram mais de ano para concluir de arte.

Quando abriu para o público?
Foi quando o projeto completou 10 anos. Eu entendi que era o momento de abrir para o publico. Mas foi um processo devagar, primeiro era alguns dias da semana, depois, contratamos uma pessoa e abrimos todos os dias, passamos a oferecer uma taça de vinho. Hoje também temos um restaurante e um hotel, com cinco suítes.