As grandes lojas descobriram o caminho usado pelo sistema financeiro para ganhar dinheiro no Brasil. Um estudo da consultoria Partner revela que o número de cartões de crédito emitidos por grandes empresas, como as Lojas Riachuelo, o Pão de Açúcar e a C&A, ultrapassou o das bandeiras tradicionais, como Visa e Credicard. São 54 milhões de plásticos de marcas próprias contra 46 milhões. E as lojas apreciaram tanto o gostinho do sistema financeiro que estão se aventurando em novos negócios. Oferecem seus cartões de crédito para uso em outras lojas, vendem seguros, títulos de capitalização e até criam bancos para aproveitar melhor o negócio. ?Essa é a nova fronteira do crédito no Brasil?, diz Álvaro Musa, diretor da Partner.

Pelas contas da Partner, o número de cartões de lojas cresceu 60% nos últimos três anos e já movimenta R$ 15 bilhões por ano. Até 2006, diz Álvaro Musa, devem girar mais de R$ 20 bilhões. Nas redes pioneiras, conta-se o número de plásticos emitidos em milhões. A Riachuelo tem 8 milhões de unidades, a Pernambucanas 3 milhões e a Líder Magazine, do Rio de Janeiro, 1,7 milhão. Em Recife, as 3 milhões do Hipercard, do supermercado Bom Preço, se tornaram um negócio à parte. A rede está à venda, mas seus donos, os holandeses da Royal Ahold, aceitam ofertas específicas para o Hipercard.

O que sustenta essa aposta financeira de lojas de departamentos, drogarias e supermercados são três trunfos. Ao lançar marca própria, a empresa tem mais controle sobre os bancos de dados da clientela e pode fazer propaganda dirigida para seu público, sem depender do cadastro de terceiros. Também pode fazer promoções para tornar o portador do plástico um freguês fiel da loja. E há, acima de tudo, o ganho financeiro. Normalmente, uma administradora de cartões de crédito cobra de 0,5% a 1,5% sobre o faturamento. Com a marca própria, o dinheiro fica com o lojista.

Financiar a clientela também impulsiona o negócio, especialmente quando boa parte da freguesia só consegue comprar a prazo. Em 1992, a loja de departamentos Yamada, de Belém do Pará, lançou sua própria marca. Era uma forma de financiar compradores que, muitas vezes, sequer têm conta em banco. O resultado é que a Yamada cresceu rapidamente, entrou para o ramo de supermercados e comprou uma rede de lojas no Estado vizinho, Amapá. Dos R$ 450 milhões que fatura por ano, 70% vêm dos cartões. ?O cartão é o motor de crescimento da rede e virou sinônimo de documento para muita gente?, diz Fábio de Oliveira, o diretor responsável pelo
cartão. A loja fez convênios com a concorrência e hoje o plástico é aceito em 110 estabelecimentos comerciais além da própria Yamada. Agora, se prepara para oferecer empréstimos pessoais pelo cartão ? como um banco.

O Carrefour foi ainda mais longe: acaba de pedir ao Banco Central a autorização para criar um banco. ?É uma decorrência natural do crescimento do cartão?, diz Eric Cohen, diretor de marketing do Carrefour. Um terço das vendas da rede francesa no País vem dos cartões. O Carrefour direcionou os negócios para seu produto financeiro: quem quiser abrir um crediário para comprar um eletrodoméstico, por exemplo, não pode usar um cartão Visa ou Mastercard, só o do próprio Carrefour. Resultado: a rede tem 4 milhões de plásticos. O próximo passo é abrir o banco para levantar recursos e financiar negócios com o cartão. ?Não vou mais pagar para intermediários?, diz o mais novo banqueiro do País.

Até as redes de drogarias gostaram de se aventurar no mercado financeiro. A rede Drogão, de 45 farmácias, já tem um milhão de cartões de crédito emitidos. O cartão Drogão surgiu para dar descontos e manter a clientela ligada na rede. ?É para carregar a marca da farmácia no bolso?, diz Nelson de Paula, diretor de marketing da cadeia de lojas. Hoje, movimenta R$ 12 milhões por ano ? 10% do faturamento da rede. O Drogão gostou tanto da experiência financeira que agora quer estender sua atividade. Seu plano é levar o cartão para outros estabelecimentos comerciais, especialmente nas áreas de sua atuação, como saúde e beleza. ?Virou uma bela opção de negócio?, diz Nelson, o diretor de marketing que virou o homem de finanças do Drogão.