O pior trimestre em 16 anos na venda de veículos no Brasil parece ter passado longe do segmento de locação de veículos. Ao menos é o que indicam os números divulgados pela Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla). No período, foram emplacados pouco mais de 78,5 mil carros, o equivalente a 19% de todas as compras feitas pelas empresas do setor durante 2021, quando somaram 411,8 mil. A frota total de automóveis e comerciais leves cresceu 3,2% entre janeiro e março, de 1,136 milhão para 1,173 milhão de unidades.

A alta nos emplacamentos das locadoras, segundo Marco Aurélio Nazaré, presidente do conselho nacional da Abla, é um parâmetro importante para apontar o aumento da demanda por veículos alugados. “A frota total já é maior do que a registrada em dezembro do ano passado e as modalidades responsáveis por esse aumento são principalmente a do carro por assinatura e a da terceirização de frotas para empresas privadas”, disse.

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Apesar da demanda aquecida, as locadoras ainda enfrentam atrasos na entrega de veículos zero quilômetro por parte das montadoras. A indústria já recebeu pedidos de 600 mil unidades para empresas de locação em 2022. Mas é pouco provável que todos sejam atendidos, como afirmou em abril Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em conversa com jornalistas, o executivo afirmou que a marca atingida deve ser de 400 mil, pouco menos das 442 mil encomendas registradas no ano passado – em 2020, foram compradas 360 mil. A justificativa principal é a falta de peças e componentes.

A dúvida em relação à entrega das encomendas se transforma em certeza quando o tema abordado é o crescimento do mercado de locação de veículos em 2021. Segundo o anuário brasileiro do setor, houve aumento de 12,3% no total de usuários no Brasil na comparação anual. Já em termos de faturamento a atividade apresentou incremento de 33,5% em relação ao período anterior, com a marca de R$ 23,5 bilhões, no maior avanço registrado nos últimos cinco anos. Em 2020, a receita havia sido de R$ 17,6 bilhões, ainda sob impacto das medidas de isolamento social em decorrência da pandemia.

A Anfavea aposta na demanda das locadoras para alcançar a meta de 2,3 milhões de emplacamentos no ano, volume 8,5% superior ao registrado no ano passado. Mas, no que depender dos números computados no primeiro trimestre de 2022, a marca corre o risco de não ser confirmada. Foram vendidos 405,7 mil veículos, queda de 23,3% em relação ao período entre janeiro e março de 2021. Já a expectativa de produção era de 525 mil unidades, mas chegaram a 496 mil, 17% inferior na comparação anual. “Há a possibilidade de recuperarmos isso nos próximos trimestres (para alcançar a previsão para o ano)”, disse Moraes. Isso, claro, se a nova onda de Covid na China, a crise dos semicondutores e a guerra entre Rússia e Ucrânia deixarem.