As autoridades policiais dos Estados Unidos pedem novas e duras leis contra o que chamam de “terrorismo nacional”, diante do aumento dos ataques de extremistas de direita.

A tendência dos agressores de agir de forma solitária, sem apoios e praticamente sem advertência, e a falta de convicção do governo Donald Trump para ir atrás de grupos de extrema direita que muitos identificam como aliados do presidente representam os principais obstáculos para a prevenção dessas tragédias, dizem especialistas.

Segundo o “think tank” New America, com sede em Washington, desde os ataques do 11 de Setembro, o número de assassinatos nos Estados Unidos cometidos por extremistas de direita superou os provocados por “jihadistas”.

Durante muito tempo, a Polícia Federal americana (FBI) considerava neonazistas, antissemitas e supremacistas brancos como uma ameaça secundária, mas, recentemente, aumentou a vigilância desses grupos.

Ainda assim, o FBI não conseguiu evitar que um homem branco de 21 anos matasse 22 pessoas em El Paso, no Texas, no sábado, depois de publicar na Internet um texto denunciando a “invasão” de imigrantes através da fronteira com o México.

Tampouco impediu que um jovem antissemita assassinasse 11 judeus em uma sinagoga de Pittsburgh, na Pensilvânia, em outubro de 2018.

Muitos alegam que a virulenta retórica do presidente fomenta o racismo e afirmam que Trump deveria agir com firmeza para alinhar seus seguidores contra o extremismo de direita.

“Se não tivermos o apoio do presidente, se o presidente não se dedicar a isso e, de fato, demonstrar sua liderança no assunto, é difícil imaginar que se terá algum progresso”, disse o ex-diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo Nick Rasmussen, em entrevista à rede MSNBC na terça-feira.

– Grande desafio –

Desde os ataques do 11 de Setembro, os Estados Unidos se dedicaram à luta contra grupos como a Al-Qaeda, ou o Estado Islâmico (EI), mas o aumento de mortes em tiroteios não relacionados com o extremismo islâmico redirecionou recursos para a ameaça do “terrorismo nacional”, afirmou em julho o diretor do FBI, Christopher Wray.

Segundo Wray, hoje estão em andamento cerca de 850 investigações vinculadas ao “terrorismo nacional” e, desde o início do ano, foram feitas pelo menos 100 detenções relacionadas com extremismo político. A grande maioria delas se deu “pelo que se pode chamar de violência de brancos supremacistas”.

Ao mesmo tempo, o FBI prendeu quase 200 “jihadistas” na última década, devido à sua atividade on-line, ou a outros meios para entrar em contato com o EI, ou com outros grupos que estão sob extrema vigilância.

O diretor adjunto do FBI, Michael McGarrity, disse ao Congresso que é extremamente difícil detectar pessoas que se autorradicalizam e que não mantêm conexões com nenhuma organização.

Para os especialistas, controlar milhares de pessoas que expressam legitimamente suas opiniões políticas on-line, por mais extremas que estas sejam, é impossível.

Em um país como os Estados Unidos, onde comprar armas legalmente é um processo simples, um potencial agressor que se identifique como supremacista branco pode se armar sem chamar a atenção.

“Com frequência, estes indivíduos agem sem uma filiação clara e sem as diretrizes de um grupo. Então, identificá-los, investigá-los e prendê-los é um desafio”, disse McGarrity.

– Liberdade de expressão –

O FBI também está de mãos atadas pela Constituição, que garante a liberdade de expressão e protege os cidadãos de operações de busca e apreensão sem o devido mandado judicial.

Depois do 11 de Setembro, as autoridades obtiveram, por lei, um enorme poder para monitorar comunicações internacionais entre cidadãos americanos e pessoas vinculadas a grupos terroristas. Não têm autorização, porém, para vigiar cidadãos que expressem ideias extremistas dentro do território nacional, conversas que estão protegidas pela liberdade de expressão e que não podem ser investigadas sem prova de que há um plano de atentado.

“Nosso foco está na violência”, disse Wray ao Congresso em julho.

“O FBI não investiga ideologia, por mais repugnante que seja. (Mas) quando se transforma em violência, estamos em cima”, completou.

É por esse motivo que o FBI e alguns políticos pedem ao Congresso novas leis que abordem especificamente o terrorismo doméstico para que forças da ordem possam agir e se antecipar aos agressores.

Em maio passado, o vice-procurador-geral adjunto Brad Wiegmann advertiu ao Congresso que “classificar grupos nacionais como organizações de terrorismo doméstico e eleger grupos particulares, com cujos pontos de de vista você diz não estar de acordo, será muito problemático”.