Será lançado nesta segunda-feira 6 em São Paulo, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, o livro “A tecnologia acima do bem e do mal – A tragédia do homem contemporâneo”, de José Rubens Salles de Toledo. Na obra, ele aborda a tecnologia como meio que vem sendo utilizado pelo homem para criar coisas das quais não pode se defender. “Pretendo mostrar como, dessa forma, o homem se torna vítima desse modo de fazer logístico”, diz Salles de Toledo, que é mestre em filosofia e professor de tecnologia.

Para ele, “a tecnologia condiciona o homem como seu funcionário.” Salles Toledo ressalta, entretanto, que “a obra não é uma apologia contra a tecnologia, mas um alerta. O escritor recorre, por exemplo, a filósofos como Martin Heidegger – para endossar o seu argumento de que “pensar contra a lógica não significa tomar partido a favor do ilógico” – e Friedrich Nietzsche – para defender a ideia de que o homem deve dominar a tecnologia e não o contrário.

A seguir, trechos da entrevista com Salles de Toledo.

IstoÉ Dinheiro – Você traz uma visão pessimista sobre a tecnologia, mesmo que faça a ressalva de que a obra não é uma apologia contra a tecnologia. No que o homem errou e deixou a tecnologia ser uma forma opressora? O que deveria ser feito de diferente?
Salles de Toledo – Com o surgimento da Idade Moderna a técnica, ou seja, o modo de saber fazer, ganha outro componente com a instauração do Método Científico: a logística. A técnica passa para o predomínio do modo de saber fazer logístico, onde tudo é passível de cálculo, configuração, parametrização, sistematização e normatização. Tudo é transformado como fundo disponível. Este modo de saber fazer logístico, captura a energia encerrada na natureza. O que é capturado, é transformado, intensificado, armazenado e distribuído, e assim sendo, sua opressão, se dá como uma armação, que estrutura, enquadra, conforma e impõe, tornando tudo como fundo disponível.

IstoÉ Dinheiro – Sim, mas o que deveria ser feito de diferente?
Salles de Toledo – O próprio homem é incapaz de prever a recuperação.

IstoÉ Dinheiro – Toda tecnologia, sem exceção, criou possibilidades, por um lado, mas foi também usada para dominar, matar, subjugar, escravizar, aculturar, enriquecer e aumentar desigualdades. Vale para a catapulta, vale para um avião. Sendo assim, não parece ser da essência do homem criar tecnologias em que mais homens serão seus ‘funcionários’, para usar um termo do livro?
Salles de Toledo – “Vale para a catapulta, vale para um avião”, este é um dos principais motivos para nos distanciarmos do aparato tecnológico, para uma investigação mais essencial. O perigo deste modo de saber fazer logístico não está na usabilidade ou em seus resultados que nos ameaçam e nos beneficiam, mas, sim, no bloqueio gerado pela essência da tecnologia, que repousa na armação. Nesse sentido, o perigo não é visível, não está nas máquinas, nos aparatos, reside no sistema de pensamento que os alicerça. A tecnologia não é neutra, ela é uma força autônoma, carrega em seu cerne uma lógica decadente, este é um dos principais alertas do meu livro.

IstoÉ Dinheiro – Por favor, dê um exemplo do que chama de ‘propor um repensar sobre o modo de fazer logístico’.
Salles de Toledo – A educação. Como observei a tecnologia repousa na armação, cujo risco é capturar, transformar, intensificar, armazenar e distribuir. Isso quando aplicado na educação provoca uma séria ameaça. Nessa linha, a formação dos estudantes se dá única e exclusivamente como um Recurso Humano, capturado, transformado, intensificado, armazenado e distribuído para o Mercado de Trabalho.

IstoÉ Dinheiro – Na possibilidade de ‘não existir’ a tecnologia o mundo seria melhor ou pior?”
Salles de Toledo – A tecnologia, este modo de saber fazer logístico, funda-se na representação e no cálculo, sua existência faz parte da humanidade, mas, somos muito mais que isso, muito mais. Parafraseando Nietzsche, olhar a tecnologia pela ótica da arte e a arte pela ótica da vida. Transformar o ambiente de trabalho, como um ateliê que propicie uma subjetividade resultante da criação e da contemplação, está muito distante deste este modo de saber fazer logístico, como por exemplo, ao imposto às redações de jornalismo?

“A tecnologia acima do bem e do mal – A tragédia do homem contemporâneo”
Lançamento: segunda-feira
Horário: 19h
Local: São Paulo, Livraria Cultura do Conjunto Nacional, avenida Paulista 2073
Palestra: Teatro Eva Herz