O livro Polícia Federal – como a PF se transformou numa das instituições mais respeitadas do País e as disputas por seu controle, que será lançado na próxima terça-feira, 15, pela editora Máquina de Livros, promete revelar os bastidores da corporação: do passado associado à ditadura, passando pelas megaoperações contra a corrupção e chegando aos esforços para torná-la independente.

O jornalista e agente penitenciário Anderson Sanchez (O Carcereiro do Cabral) sintetiza em pouco mais de 200 páginas documentos inéditos e uma série de entrevistas com nomes que comandaram ou dirigiram setores estratégicos da instituição, entre eles Paulo Lacerda, Zulmar Pimentel, Getúlio Bezerra, José Francisco Mallmann e Reinaldo Almeida, além de agentes, escrivães, peritos e ministros.

A obra é dividida em três partes: a criação da instituição e sua busca por identidade; a transformação do foco no combate ao contrabando e ao tráfico de drogas para os crimes financeiros e de corrupção; e o legado da corporação.

“O relato dos fatos ocorridos nas últimas décadas, e especialmente a partir da virada do século, ajuda a conhecer com um grau de profundidade maior os passos dados ao longo dos anos para que a Federal se tornasse uma instituição respeitada no país”, resume o prefácio.

Na parte final, o autor dedica um capítulo para falar sobre o inquérito aberto em abril para apurar se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação para blindar familiares e aliados. A investigação, iniciada a partir de declarações do ex-ministro Sérgio Moro em sua demissão, está em fase final aguardando apenas o depoimento do presidente. O livro, no entanto, não avança sobre a crise Bolsonaro versus Moro. O texto limita-se ao noticiário geral sobre o caso para defender a autonomia da PF.

O autor conta ainda detalhes de investigações que ganharam o noticiário, como o caso PC Farias, nos anos 1990, que resultou no impeachment do então presidente Fernando Collor. A investigação, a mais importante contra crimes de “colarinho branco” até então, também é apontada como pioneira no uso de tecnologia: foi a primeira a fazer perícia em um computador, conta Sanchez.

“O programa rodou durante dois dias até aparecerem os primeiros dados na tela do computador”, revela o livro. “Arquivos foram recuperados integralmente e eram ouro puro. Um deles tinha o nome de Cash (dinheiro vivo) e, como senha, a palavra Collor. Havia planilhas, nomes e detalhes sobre a forma de atuação da organização liderada por PC Farias. O laudo pericial resultou num calhamaço de 248 páginas. No sistema, constavam os nomes das construtoras OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez, dos bancos Credicard e BNC, entre outros grupos privados – alguns dos envolvidos eram pais ou avós dos empresários presos em operações mais recentes da PF”.

O livro também remonta às investigações da Polícia Federal contra o ex-deputado federal José Janene (PP), o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em 2014 – meses antes do início da Operação Lava Jato. A força-tarefa atribui ao parlamentar a montagem do esquema instalado na estatal, com loteamento das diretorias sensíveis da petrolífera a partir de 2003.

Leia o prefácio da obra:

“Aplausos, gritos e palavras de ordem. O entusiasmo do público tem sido a marca nos desfiles do pessoal da Polícia Federal na parada de Sete de Setembro. Pesquisas de opinião confirmam o prestígio da instituição. O reconhecimento se mantém a cada ano.

Ser policial federal também se tornou o sonho de centenas de milhares de jovens inscritos num dos concursos públicos mais disputados do país. Além dos bons salários, o status é um dos fatores de atração de candidatos qualificados. Contudo, nem sempre foi assim.

Só com o tempo a instituição passou a ser um dos símbolos da luta contra a corrupção. Políticos, empresários, juízes, procuradores e policiais são investigados, presos e condenados. As grandes operações se destacam no noticiário e produzem na opinião pública a rara sensação de enfrentamento à impunidade, num país em que a falcatrua encontrou terreno fértil ao longo da História. Para os otimistas, as cenas transmitidas habitualmente pela TV nas primeiras horas do dia, de grupos com a logomarca da Federal nas camisas, são a expressão mais tangível de mudanças no horizonte.

Até a carceragem se transformou em alvo da curiosidade da população. A principal delas, a da Superintendência de Curitiba. Políticos, empresários e policiais envolvidos em desvios de dinheiro do contribuinte foram presos em sedes da Polícia Federal e em outras cadeias espalhadas pelo país.

Meu primeiro contato com os gestores das mudanças na Polícia Federal se deu no curso de especialização do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj), em 2009. Quarenta alunos foram aprovados para o MBA em gestão de organizações de segurança pública, da Escola de Políticas Públicas e Gestão. Uma das aulas foi sobre marketing institucional e o case da Polícia Federal, uma referência em gestão profissional no serviço público. Àquela época, a responsabilidade como assessor de imprensa nos sindicatos dos servidores do Sistema Penitenciário e do Departamento Geral de Ações Socioeducativas despertou em mim o interesse por ferramentas de planejamento estratégico para a evolução das instituições de segurança pública. Atualmente, integro a equipe da Coordenação de Estudos e Pesquisa da Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro e continuo pesquisando e produzindo textos com esse objetivo.

Conhecer as origens do status quo da Polícia Federal permite verificar a semelhança do diagnóstico da instituição – antes das mudanças – e dos demais órgãos voltados para a segurança nos dias de hoje. O protagonismo alcançado pela PF pode e deve servir como exemplo para novos modelos de sucesso na gestão pública.

Porém, enquanto a população aplaude a Polícia Federal, há políticos, representantes das instâncias superiores do Judiciário e até setores da imprensa que acusam a instituição de espetacularização em suas ações, em detrimento dos direitos individuais. A PF seria mais um produto de marketing do que uma agência policial de referência. A questão é: será que a publicidade sustentaria esta boa reputação de uma instituição pública por tanto tempo?

Ao longo da história, infelizmente a precariedade dos serviços públicos tem sido regra e não exceção. Saúde e educação são exemplos de ineficiência e descaso. A segurança, também. Há nichos de excelência, mas são pontuais e localizados, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, referência no combate ao crime e proteção à população. Em geral, o panorama é de negligência e improviso.

No passado, a Polícia Federal fazia parte desse quadro de desalento: tinha prédios caindo aos pedaços, viaturas sem manutenção, armas inapropriadas, baixos salários, falta de pessoal e outras mazelas comuns ao serviço público. Às vezes, resultados positivos em investigações complexas eram minimizados por crises institucionais provocadas por corrupção, incluindo até mesmo o assassinato de um delegado que investigava outra autoridade policial. Notícias de tortura e morte nas carceragens da PF eram frequentes.

O relato dos fatos ocorridos nas últimas décadas, e especialmente a partir da virada do século, ajuda a conhecer com um grau de profundidade maior os passos dados ao longo dos anos para que a Federal se tornasse uma instituição respeitada no país e entender se é possível outros órgãos públicos trilharem trajetória semelhante.

Anderson Sanchez”

Serviço

Título: Polícia Federal – Como a PF se transformou numa das instituições mais respeitadas do país e as disputas por seu controle

Autor: Anderson Sanchez Editora: Máquina de Livros

Preço: R$ 44,90 (impresso) e R$ 27,90 (e-book).