As siderúrgicas brasileiras passaram quase todo o ano de 2000 desfazendo a teia acionária que amarrava o setor. Agora, com a maior parte dos nós desatados, apostam em bons tempos para o aço em 2001. Embaladas pela expansão do mercado interno, calibram os investimentos em segmentos mais nobres, como os galvanizados, que têm aplicação crescente nas indústrias automobilísticas. Três das principais empresas fecharam alianças com concorrentes internacionais que movimentam mais de US$ 1 bilhão. A Usiminas saiu na frente e fechou parceria com a japonesa Nippon Steel. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aliou-se à alemã Thyssen Krupp e acaba de inaugurar a Galvasud. Já a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) estuda a aquisição de uma fatia da Vega do Sul, unidade de aços galvanizados que a francesa Usinor começa a erguer. ?As empresas se preparam para atender a demanda local emergente?, afirma Márcio Lins, analista do Banco Pactual. ?E, no caso de alguma retração interna, já contam com o aval de estrangeiras para partir rumo ao mercado externo.?

Desde o início da década de 90, a siderurgia tem demonstrado vigor no País. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma média de 2,5% ao ano, a demanda por aço subiu na faixa de 5,5%. Dono das maiores reservas de minério de ferro do mundo, além de mão-de-obra barata, o Brasil tem hoje um dos menores custos de produção de aço. Cada tonelada sai por uma média de US$ 170,00, contra US$ 230,00 nos Estados Unidos. Aqui, a margem de lucro das grandes empresas é de 40%, contra 15% dos norte-americanos. Oitavo maior produtor de aço, o Brasil tem condições de avançar ainda mais. Daí os investimentos.

Prestes a se libertar do novelo que a prende à Vale do Rio Doce (com negócios em mineração, papel e celulose, ferrovias, portos etc.), a CSN faz planos para conquistar espaço maior nos mercados interno e externo. Sob as rédeas de Maria Silvia Bastos Marques, presidente da siderúrgica, acaba de investir, em parceria com a Thyssen Krupp, US$ 250 milhões na Galvasud, em Porto Real (RJ). A unidade fornecerá aços galvanizados para a indústria automotiva no Brasil. Para atender a construção civil e eletrodomésticos, inaugura, até o final do ano, outra fábrica de galvanizados no Paraná, batizada de Cisa, com investimentos de mais de US$ 250 milhões. ?Ganhamos versatilidade, o que nos permite direcionar produtos para todos os mercados?, diz João Luís Barroso, diretor executivo da CSN.

Outros US$ 500 milhões foram destinados à modernização da laminação de tiras a quente ? matéria-prima para os laminados a frio e os galvanizados ? e à reforma do mais potente alto-forno da usina de Volta Redonda. Os planos incluem ainda uma nova unidade produtora de placas (primeiro estágio no processamento do aço) em Itaguaí (RJ) e a aquisição de uma laminadora nos Estados Unidos. Se isso se concretizar, a CSN dobra a capacidade de produção, chega perto de 10 milhões de toneladas de aço e ganha poder de fogo para ampliar as exportações. Em 2000, a empresa tornou-se auto-suficiente em energia elétrica, um dos insumos mais caros da siderurgia. Também investiu na infra-estrutura e logística, inaugurando terminal próprio no Porto de Sepetiba, no Rio. ?Assim, aumentamos a nossa rentabilidade?, constata Barroso.

A disputa, porém, será acirrada. Na área de galvanizados, a Usiminas é responsável por 57% de todo o aço consumido pela indústria automobilística do País. Desde 1996, quase R$ 1,5 bilhão foram aplicados na modernização e na ampliação da produção da Usiminas. ?Passaremos a usufruir da posição privilegiada conquistada com os investimentos realizados?, afirma o presidente Rinaldo Campos Soares. A empresa destinou US$ 250 milhões a uma nova unidade de galvanizados, resultado do acordo com a Nippon Steel. Estudo da Usiminas mostra o crescimento na utilização desse tipo de aço. O antigo Monza, da General Motors, tinha apenas 3% de galvanizados. O Astra já emprega mais de 80%. A crescente produção de carros mundiais no País aumentou o uso de aços que oferecem maior resistência à corrosão.

Com o aquecimento da economia brasileira, outras empresas estão dando uma guinada em direção ao mercado local. A CST, que exporta 95% de sua produção, quer ampliar sua fatia por aqui. Nos próximos dois anos, a empresa investirá cerca de US$ 600 milhões na construção de uma fábrica de laminados de tiras a quente para atender principalmente ao consumo doméstico. ?A participação das vendas externas em nossa receita deverá baixar, num primeiro momento, para 80%?, afirma o presidente José Armando Campos. A empresa também estuda o ingresso no segmento de galvanizados. A francesa Usinor, uma das acionistas da CST, investirá US$ 400 milhões na Vega do Sul, que fabricará esse tipo de aço. Convidada a adquirir uma participação de 25%, a CST ainda não tem uma decisão. ?Estamos analisando?, resume Campos.

Seguindo uma trilha diferente, a Gerdau tem perseguido a internacionalização. Desde 1983, quando Jorge Gerdau assumiu a presidência, a empresa, que já operava no Uruguai, chegou à Argentina, ao Chile, Canadá e Estados Unidos. O perfil multinacional foi a saída encontrada para driblar a falta de espaço no Brasil. Como domina o setor de aços longos (aplicados em indústrias mecânicas e na construção civil), o grupo não tinha alternativas de aquisições no mercado nacional. O balanço dos nove primeiros meses deu mostras do êxito da estratégia adotada. O faturamento subiu 78%, chegando a R$ 4,6 bilhões. Para 2001, já está reservado um investimento de US$ 200 milhões na modernização e ampliação da linha de produtos. Gerdau, portanto, também pode ir às compras no Brasil.