Um dos contextos mais comuns e prejudiciais do universo corporativo é o de líderes e liderados que não se arriscam, seguem cartilhas. Profissionais que cotidianamente atuam com disciplina frente às regras e hierarquia, em uma gestão tradicional de comando e controle, numa postura alimentada por vulnerabilidades da cultura organizacional, pela própria comodidade, comodismo ou medo de mostrar-se frágil e ser substituído.

As relações modernas de trabalho exigem virar o jogo! É com propósitos claros e além dos negócios, desafios e projetos constantes, vínculos de confiança, delegação e divisão de responsabilidades, diálogos abertos e maduros independentemente de cargo, respeito à diversidade e às múltiplas experiências da equipe, abertura para a ousadia e meritocracia que há maiores chances de retenção dos melhores profissionais, oferta de produtos e serviços inovadores e resultados expressivos.

+Trabalho presencial: estudo descobre que insatisfação pode ser contagiosa

“Turn The Ship Around – A True Story of Turning Followers Into Leaders” (Vire o navio – A verdadeira história de tornar seguidores em líderes) serve à essa realidade. Publicado em 2013, o livro conquistou centenas de milhares de pessoas com a biografia do ex-capitão da Marinha americana, David Marquet, responsável por uma revolução em um ambiente rígido.

Oficial experiente, graduado pela Academia Naval, Marquet assumiu a liderança do submarino com propulsão nuclear chamado Santa Fé, em meados de 1999. Treinado para ser o “chefe sabe tudo, diz tudo o que fazer”, ele se deparou com um dos momentos mais estressantes da carreira, em razão da pouca margem para erro.

O moral do time do Santa Fé estava baixo, a permanência de bons profissionais também e o desempenho do submarino era um dos piores da Marinha americana. David Marquet então falhou em uma ordem e viu os comandados, mesmo cientes do perigo, segui-lo sem contestações. Oras, queremos meros seguidores, que executam sem pensar ou contestar, ou buscamos pessoas inteligentes e competentes, capazes de questionar e serem questionadas, que atuam na modelo liberdade com responsabilidade, apaixonadas pelo que fazem e agregando real valor aos negócios e à sociedade?

Ao perceber o equívoco e os riscos, David Marquet passou a exercer uma liderança para extrair dos comandados a postura de dono, criando líderes em todos os níveis e compartilhando as tomadas de decisões. Ele promoveu engajamento, senso de orgulho e pertencimento, levando o submarino ao topo das entregas qualificadas.

O livro “Empatia Assertiva – Como ser um líder incisivo sem perder a humanidade”, de Kim Scott, também serve ao tema. A obra destaca a importância da preocupação genuína das lideranças com os colaboradores, o trabalho coletivo, o desenvolvimento de caráter e competências, criando um ambiente onde as pessoas se identificam com a cultura organizacional ou a chefia e os colegas e apreciam o que fazem.

Após passagens por Google e Apple, Kim Scott convenceu-se de que o feedback confrontador é parte do importar-se com os colaboradores, consigo próprio e a empresa. Sem trocas com agressividade ofensiva. Mas sim com comunicação não-violenta e crítica construtiva, que levam profissionais a melhorar performances e promover no grupo um movimento pelo alto desempenho.

Os caminhos sugeridos podem até soar simplistas, pois falamos de pessoas, e nem sempre alcançamos a densidade de talentos apropriada para as companhias. Contudo, mesmo com percalços pelo caminho, vale a pena manter-se obstinado pela máxima deste conteúdo.