As eleições locais organizadas no leste separatista da Ucrânia, denunciadas pelo Ocidente, reforçaram seus novos líderes no poder, segundo os resultados publicados nesta segunda-feira (12), consolidando o peso de Moscou nestes territórios que escapam ao controle de Kiev.

Somando-se a Paris e Berlim, Washington qualificou as eleições de farsa, no dia seguinte de moradores destas regiões separatistas votarem para eleger presidentes e deputados para as duas repúblicas populares autoproclamadas pelos rebeldes em Donetsk (DNR) e Lugansk (LNR), em guerra há quatro anos.

Segundo analistas, estas eleições permitem que Moscou apresente os líderes separatistas como políticos eleitos democraticamente, mais apresentáveis que seus antecessores, que eram líderes bélicos.

Os atuais líderes interinos, Denis Pushilin, nomeado em Donetsk após o assassinato, neste verão, do dirigente anterior, e Leonid Pasechnik, em Lugansk depois da destituição do encarregado precedente, venceram as eleições de domingo com 60,9% e 68% dos votos respectivamente, segundo resultados definitivos.

O Kremlin reagiu a estas declarações com compreensão. “Kiev não respeita os acordos de Minsk. Nestas condições, estas repúblicas não têm outra opção a não ser se organizar e garantir suas obrigações sociais com relação às pessoas abandonadas pelo seu país”, a Ucrânia, explicou nesta segunda-feira seu porta-voz, Dimitri Peskov.

Um analista próximo ao Kremlin, citado pela agência oficial TASS, afirmou, no entanto, que o conselheiro de Vladimir Putin encarregado da questão ucraniana, Vladislav Surkov, enviou uma mensagem cumprimentando os líderes vencedores.

Segundo Alexei Chesnakov, esta mensagem põe em destaque a forte participação, segundo dados oficiais, como reflexo de que os moradores da região “podem se defender e repudiam totalmente a política estúpida de Kiev”.

O Kremlin não confirmou estas declarações.

A realização destas eleições desencadeou protestos de Kiev e dos ocidentais, que veem neles a ingerência de Moscou, e as consideram contrárias aos acordos de paz de Minsk.

“Estão organizadas sob a ameaça de metralhadoras russas em um território ocupado” pela Rússia, disse na noite de sábado o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko.

A União Europeia denunciou, por sua vez, a celebração de eleições “ilegais e ilegítimas”.

– Loteria e degustações –

Rússia e Ucrânia têm relações ruins desde a chegada ao poder em Kiev, em 2014, do pró-Ocidente, após a revolta da Maidan, seguida pela anexação da península ucraniana da Crimeia pelos russos e o conflito com os separatistas no leste.

Ucrânia e os ocidentais acusam Moscou de apoiar militarmente os separatistas, algo que a Rússia desmente.

Os acordos de paz de Minsk, assinados em fevereiro de 2015, tornaram possível reduzir significativamente os confrontos, mas mesmo assim houve episódios de violência periodicamente na linha de frente, onde quatro soldados ucranianos foram mortos no sábado.

As duas repúblicas autoproclamadas são dirigidas há meses por chefes interinos, que tiveram sua autoridade referendada pelos votos.

Em Donetsk, Denis Pushilin, de 37 anos, um ex-negociador político com Kiev, foi nomeado para suceder Alexander Zakharchenko, ex-combatente falecido em agosto em um atentado.

Em Lugansk, Leonid Pasechink, de 48 anos, ex-autoridade regional dos serviços de segurança ucranianos, substituiu Igor Plotnitski, destituído em novembro de 2017.

Para atrair os eleitores às urnas, cada pessoa que votava recebeu um ingresso gratuito para uma loteria organizada no mesmo local, cujo prêmio era um ingresso para o teatro ou um concerto.

Além disso, os organizadores da votação ofereceram comida e degustação gratuita para os eleitores.

Em Lugansk foram prometidos aos primeiros 300.000 eleitores um cupom da operadora separatista para seus celulares, por 100 rublos (1,3 euro).