O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e líderes muçulmanos reunidos em Istambul pediram nesta quarta-feira (13) ao mundo o reconhecimento de Jerusalém Oriental como “capital da Palestina”, em reação à decisão americana de reconhecer a Cidade Santa como capital de Israel.

“Proclamamos Jerusalém Oriental como capital do Estado da Palestina e convidamos os outros países a reconhecer o Estado da Palestina e Jerusalém Oriental ocupada como sua capital”, assinalou um comunicado publicado ao fim da cúpula da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) em Istambul.

A maioria dos países árabe-muçulmanos já reconhecem Jerusalém Oriental como a capital palestina.

“Rejeitamos e condenamos firmemente a decisão irresponsável, ilegal e unilateral do presidente dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como a suposta capital de Israel. Consideramos essa decisão nula e sem valor”, acrescentou o texto.

Também declararam que a decisão de Trump alimenta “o extremismo e o terrorismo”.

“É uma sabotagem deliberada a todos os esforços destinados a alcançar a paz. Alimenta o extremismo e o terrorismo, e ameaça a paz e a segurança mundiais”, declararam os líderes muçulmanos.

Erdogan abriu a cúpula pedindo à comunidade internacional que reconheça Jerusalém Oriental como a “capital da Palestina”, enquanto o líder palestino, Mahmud Abbas, disse que disso dependerá a “paz e estabilidade” na região.

O presidente turco acusou Trump de ter uma “mentalidade sionista”.

Abbas, que também estava em Istambul, afirmou que Trump “deu de presente” Jerusalém ao “movimento sionista (…) como se fosse uma cidade americana”.

Em um discurso especialmente agressivo, garantiu que “não aceitamos qualquer papel dos Estados Unidos” no processo de paz, porque Washington é “parcial”.

Segundo Abbas, “Jerusalém é e continuará sendo eternamente a capital do Estado da Palestina (…) E, sem isso, não haverá paz nem estabilidade”.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu de Jerusalém afirmando: “todas essas declarações não nos impressionam”.

“Os palestinos fariam melhor em reconhecer a realidade e agir pela paz, e não pelo extremismo”, acrescentou o chefe de Governo.

Apesar da intensidade de alguns discursos, a cúpula da OCI não tomou nenhuma medida concreta.

– Manifestações no Oriente Médio –

A decisão de Trump provocou manifestações em vários países do Oriente Médio e confrontos nos Territórios Palestinos e em Jerusalém. Quatro palestinos morreram e centenas ficaram feridos desde quinta-feira.

Apesar da vontade da Turquia, muitos países da região reagiram até agora com moderação à decisão de Trump.

O mundo mundo muçulmano está dividido e vários países, entre eles a Arábia Saudita, querem melhorar suas relações com a administração Trump, com quem dividem sua hostilidade ao Irã.

“Vários grandes países do mundo muçulmano não querem entrar em conflito com os Estados Unidos, tampouco com Israel, em um contexto de tensões religiosas crescentes com o Irã”, explica Sinan Ülgen, presidente do Center for Economics and Foreign Policy (Edam), com sede em Istambul.

Para os dirigentes da Arábia Saudita e de outros países do Golfo, frear a influência do Irã “é mais importante do que tomar medidas ofensivas que possam pôr em risco as relações com Washington”, acrescenta.

No fim de semana, a Liga Árabe se limitou a uma condenação verbal, pedindo aos Estados Unidos que “anulem sua decisão sobre Jerusalém”.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, pediu que os presentes na cúpula “unam suas forças” e lamentou que “alguns países de nossa região cooperem com os Estados Unidos e com o regime sionista”.

O Irã não reconhece Israel e tem relações tensas com a Arábia Saudita.

Entre os líderes que participam da cúpula também estão o rei da Jordânia, Abdullah II; o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani; e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que denunciou a “delicada situação” provocada pelos Estados Unidos “que aumenta as tensões e violenta todos os acordos internacionais”.

De Riad, o rei Salman da Arábia Saudita disse que os palestinos “têm direto a proclamar um Estado independente com Jerusalém Oriental como capital”.

Um ministro israelense, Yisrael Katz, a cargo dos Serviços de Inteligência, assegurou que seu governo estendeu um convite ao príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, para visitar Israel, embora os dois países não tenham relações diplomáticas.