A icônica imagem de Barack Obama com Angela Merkel – ele de costas sentado com os braços abertos apoiados no encosto de um banco de madeira, ao fundo os Alpes entre nuvens, e ela parada em sua frente com um blazer vermelho gesticulando com confiança – foi tirada em 2015, quando a Alemanha sediou pela última vez a cúpula anual do G7.

Na época ambos ainda estavam no poder. O mundo também parecia viver tempos mais fáceis. Não havia pandemia, inflação recorde e uma guerra em solo europeu. A fotografia, porém, não mostra que a base para a situação em que o mundo se encontra hoje já estava lançada naquela época.

Ucrânia pede ao G7 mais armas e sanções contra a Rússia após bombardeio em Kiev

Aquela cúpula do G7, realizada no exclusivo hotel Castelo Elmau, no sul da Baviera, ocorreu apenas um ano após a Rússia ter anexado a Crimeia, em 2014. O movimento russo levou a Alemanha, França, Itália, Japão, Estados Unidos, Reino Unido e Canadá a expulsarem Moscou do grupo que desde 1997 era o G8. Fora isso, houve poucas respostas significativas à anexação.

Neste domingo (26/06), sete anos depois, os líderes das sete maiores potências industriais do mundo voltam a se reunir no luxuoso castelo na Alemanha. Enquanto isso, militares russos arrasam cidades na Ucrânia.

Guerra é o grande tema da cúpula

Quase todos os tópicos na pauta da cúpula deste ano levam a Kiev. Mesmo com batalhas em andamento, os líderes estão ansiosos com planos para discutir a potencial adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) e como reconstruir o país quando a guerra acabar.

“O nível de destruição é enorme”, afirmou o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, em comunicado na quarta-feira. Segundo o líder alemão, bilhões de euros já foram mobilizados, “mas precisamos de mais bilhões de euros e de dólares para a reconstrução, que deve demorar anos. Isso só pode ser feito unindo forças”.

Ainda mais urgente será a questão de endurecer as sanções contra a Rússia e conter suas potenciais consequências. Em março, a UE anunciou um plano para reduzir a dependência do gás natural russo em dois terços até o final do ano. Por iniciativa própria, Moscou já cortou o fornecimento deste combustível fóssil para alguns dos países europeus, alegando motivos técnicos e políticos.

Segundo fontes do governo alemão, um dos grandes temas da cúpula será como substituir a demanda europeia por 158 bilhões de metros cúbicos de gás natural e as importações russas para a Ásia em médio e longo prazo, mas também, na medida do possível, em curto prazo.

Teto no preço de energias

Apesar dessa grande mudança na política energética global estar ganhando forma, a Rússia ainda é um importante exportador de energia para o mundo. Essa posição garante à máquina de guerra de Moscou acesso a muito dinheiro. Os líderes do G7 buscam maneiras de romper com esse modelo na esperança de criar mais pressão para o fim da guerra.

Uma das ideias é a criação de teto para o preço do petróleo russo. A secretaria do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, sugeriu um mecanismo para restringir ou proibir seguros e financiamentos de embarques de petróleo russo acima de um determinado valor.

“Essa medida reduziria o preço do petróleo russo e diminuiria as receitas de Putin, permitindo, ao mesmo tempo, que uma maior oferta de petróleo chegasse ao mercado global”, disse Yellen na segunda-feira.

Esse tipo de mecanismo requer adesão internacional para ter efeito, algo que os participantes do G7 devem avaliar na cúpula.

Segurança alimentar e mudanças climáticas

Governos desejam agir em relação aos elevados custos de energia, que está contribuindo para impulsionar a inflação em muitos países e ameaçado o crescimento econômico. “Desde a última cúpula do G7, o crescimento foi revisto para baixo e a inflação revisada para cima”, disseram fontes do governo alemão.

O alto custo de bens de consumo piorou com o bloqueio do embarque de commodities agrícolas vitais devido à guerra na Ucrânia. A segurança alimentar global deve ter um grande papel no encontro, principalmente em relação à questão de como retirar da Ucrânia grãos que deveriam ser exportados.

O tema é de importante relevância para países em desenvolvimento e emergentes, como os convidados da cúpula do G7 neste ano: Senegal, África do Sul, Índia, Indonésia e Argentina.

Com o lema “Progresso rumo a um mundo justo”, há pressão para que os líderes abordem também tópicos como segurança alimentar e mudanças climáticas, que afetam desproporcionalmente países em desenvolvimento e que caíram em esquecimento devido à guerra na Ucrânia.

Fotógrafos estão ansiosos para captar a imagem que se tornar o símbolo desta cúpula. Neste ano, porém, pode ser um vídeo que assumirá essa posição: o de líder com uma camiseta verde, ao seu lado uma bandeira azul e amarela, fazendo apelos para que o mundo tome medidas para colocar um fim na guerra que devasta o seu país.