A Liderança tal qual a conhecemos hoje está com os dias contados. A maioria das empresas continua ensinando ideias e práticas sobre Liderança para uma realidade que já não existe mais.

Apesar das declarações modernizantes de alguns executivos, o real modelo de liderança que continua na cabeça de uma amostra significativa dos líderes empresariais brasileiros evidencia uma grande discrepância entre o discurso e a prática.

Tomemos como exemplo o conceito de “supervisão”, ainda hoje muito utilizado, em vários níveis, na hierarquia das organizações. A função de “supervisor” foi criada no século passado e continua fazendo parte da estrutura de cargos e salários da maioria das empresas. A origem etimológica desta palavra já diz muito: “super + visão”, ou seja, monitorar as pessoas sob sua visão. Liderar as pessoas, olhando-as trabalhar, foi bastante eficaz no tempo em que as pessoas trabalhavam no mesmo ambiente, quer seja no escritório ou no chamado “chão de fábrica”.

Com os avanços da tecnologia, especialmente a digital, não precisamos mais compartilhar o mesmo espaço físico para trabalhar. Podemos fazê-lo de casa (home office), no carro, metrô ou, até mesmo, de outra cidade ou País, via call ou vídeo conferência, com transmissão de dados e imagens a distância em ritmo online. Já há bastante tempo podemos nos comunicar, trabalhar e produzir de forma remota.

Desta forma, a supervisão tradicional, física, perdeu o sentido. Os líderes e gestores precisam de outras formas para monitorar suas equipes. Passou a ser um desafio e tanto o controle da produtividade e a arte de cultivar os valores de uma empresa nessa nova realidade mais virtual e menos física. E esse desafio se impõe não apenas no ambiente de trabalho, mas também em casa. Como educar filhos na era da mobilidade? Como inspirar valores quando o acesso a todo tipo de informações parece ilimitado?

A Era Digital tem reconfigurado a vida empresarial. Muda a natureza dos negócios, com soluções disruptivas que destroem companhias tradicionais da noite para o dia. Muda o ritmo, que em vez de incremental passa a ser exponencial. Mudam as relações trabalhistas, por meio do acesso a meios de produção que tornam o presencial menos relevante. Muda o espaço do trabalho, de escritórios para coworking. Muda o conceito de resultados, que passam a exigir escalabilidade. Muda a forma de educar e de aprender. Muda a filosofia, da propriedade dos bens para a valorização do acesso, levando à era do compartilhamento. Muda a forma de liderar!

O sentido da hierarquia tradicional dançou. Foi-se o tempo no qual uma pessoa jovem que entrava numa empresa levava anos para conhecer ou poder falar com o presidente da corporação. Pelo menos três a quatro níveis hierárquicos os separavam e a tentativa de “bypass” era considerada falta grave. Hoje, um estagiário pode enviar e-mail ou um WhatsApp para o poderoso chefe que está cinco níveis hierárquicos acima e… receber uma resposta! Falta grave passou a ser a do gestor que cria feudos e impede seus liderados de terem acesso a quem precisam para desempenhar seu trabalho.

Em todo o mundo, as pessoas que exercem algum tipo de liderança estão muito mais vulneráveis, pois a facilidade de acesso à informação permite um nível de transparência muito maior. A coerência entre o que o líder diz e o que faz é questionada o tempo todo. Essa coerência que rima com transparência passou a ser uma pedra no sapato para a legitimidade dos líderes que se acostumaram a jogar para a plateia. Já está ocorrendo o que há algum tempo chamo de “erosão eletrônica da liderança”.

No entanto, apesar de sabermos que esse modelo ultrapassado não funciona mais, uma nova forma de pensar e exercer a liderança ainda não se faz presente com a intensidade necessária. Com a entrada dos chamados “Nativos Digitais” no mercado de trabalho, os desafios dos líderes e gestores tradicionais só tendem a aumentar de complexidade.

Para os mais precipitados, que já falaram até em “liderança por controle remoto”, finalizo com um alerta nesse processo de reinvenção da Arte de Liderar: a transformação digital não é “apenas” tecnologia. Envolve muito mais. Esse movimento exige um novo modelo mental, como um dos pilares da cultura das empresas que sobreviverão. Afinal de contas, quanto mais sofisticada a tecnologia, maior a necessidade do contato humano! O mundo não será apenas digital, será físico e digital ao mesmo tempo. Liderança na Era ‘Figital’ seria um título mais apropriado para esta coluna hoje.