Incorpore a inteligência feminina no processo decisório da sua empresa! Essa tem sido uma das propostas mais frequentes que faço, quando perguntado sobre formas de aumentar a competitividade de produtos e marcas, nesse momento de incertezas, alta velocidade e ambiguidade que caracteriza nosso ambiente corporativo.

Aprisionadas por uma cultura empresarial a qual predominava crenças inadequadas e preconceituosas, as empresas da Era Industrial desperdiçaram o potencial da competência feminina, confinando-a a tarefas rotineiras e subalternas, na obsessiva busca pela economia de escala.

No entanto, na Era dos Serviços, do Intangível e do Compartilhamento que vivemos, a matéria-prima básica é composta por imaginação humana, criatividade e inovação. As organizações que desejam sobreviver nesse novo cenário não podem mais se dar ao luxo de selecionar apenas uns poucos para pensar, enquanto engaiolam a maioria da sua força produtiva na execução. Também fica inviável prescindir do emocional das pessoas e contar apenas com seu lado racional no dia a dia do trabalho.

O compartilhamento do poder decisório com as mulheres no mundo corporativo passou a ser questão de sobrevivência. As empresas competitivas precisam de todos pensando, criando e inovando. Além disso, necessitam utilizar melhor a diversidade de seus talentos, verdadeira riqueza que tem sido negligenciada pelas exigências de padronização de comportamentos ainda vigentes. Talento criativo não tem sexo, raça, nacionalidade, tamanho ou idade.

Se você ainda tem dúvidas e os argumentos anteriores não forem suficientes, resta-me adicionar uma dose de pragmatismo: o sexo feminino já́ é maioria na população em 25 dos 27 estados brasileiros. Ninguém terá mais aptidão do que as mulheres para desenhar produtos e serviços capazes de realizar o sonho e encantar essa crescente massa de consumidoras femininas nos grandes centros urbanos.

Se os produtos da sua empresa têm um percentual significativo de consumidoras, por que na sua Diretoria e no Conselho de Administração vocês não têm nenhuma mulher? Essa tem sido outra provocação que faço, tentando alertar meus clientes sobre as vantagens de colocar em prática uma saudável política da diversidade nas suas empresas.

Não se trata de defender uma suposta supremacia feminina na liderança dos negócios. Mas, sim, de evidenciar o benefício da complementariedade de percepções proporcionada pela mistura de gêneros. Uma empresa com homens e mulheres na direção tem visão muito mais ampla que aquelas com comando apenas masculino. Volume de consumidoras e/ou clientes da empresa à parte, a diversidade pode e deve estar presente em qualquer negócio. Por exemplo, seria possível e saudável ter mulheres na composição da liderança de uma empresa de confecção de cuecas, da mesma forma que homens podem ter posições de liderança em uma fábrica de absorventes.

Algumas características do universo feminino que, de forma preconceituosa, eram consideradas como fraquezas — flexibilidade para lidar com situações ambíguas, sensibilidade em relação à necessidade dos outros, preocupação com a comunidade, respeito ao meio ambiente, entre outras — viraram vantagens no mundo corporativo atual. Além disso, todos sabemos que as mulheres valorizam mais o trabalho em equipe; são mais perseverantes e constantes; agem de forma menos imediatista e com maior capacidade de raciocinar no longo prazo; sobrevivem melhor em tempos de aperto; possuem maior abertura e flexibilidade para o aprendizado contínuo.

O mais curioso, no entanto, é o fato irônico de as empresas gastarem verdadeiras fortunas tentando desenvolver essas competências, conhecidas como soft skills, entre seus dirigentes predominantemente masculinos, quando poderiam encontrar isso naturalmente em mulheres nos seus quadros de funcionários. Pense em apenas duas delas: capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo e flexibilidade. Convenceu-se do argumento?

Felizmente, essa tendência é crescente sem a radicalização que caracterizou os primeiros passos do movimento feminista, o que era absolutamente compreensível naquele momento. As mulheres competentes têm evitado a tentação de imitar o universo masculino. Também é positivo que não esteja sendo considerado um “sistema de cotas” para mulheres. O único sistema válido para promover pessoas é o da meritocracia. Porém, é preciso incluir mais mulheres nos radares de identificação e caça aos talentos. A inteligência feminina é imprescindível para as empresas. As mulheres, assim como pessoas que fazem outra escolha de gênero, têm um importante papel a desempenhar no mundo corporativo, dotando as empresas de vantagem competitiva inquestionável.