Fomos educados para pensar que, entendendo bem o presente, a gente consegue planejar o futuro de forma adequada. Que a gente precisa caminhar em direção ao futuro. Que “devagar e sempre a gente chega lá”, passo a passo, mitigando os riscos no caminho. E a nunca ousar dar um “salto maior que a perna”…

Essa forma incremental de pensar e agir foi muito útil durante um longo período no qual os fatos se moviam em uma velocidade moderada. Tínhamos tempo para analisar todas as variáveis e tomar decisões após considerar custos e benefícios de todas as possíveis alternativas. Modelos utilizando a metáfora de uma “árvore decisória”, com lógica linear, nos ajudavam a, no presente, construir a excelência do futuro.

O problema é que o mundo mudou de ritmo e de aclive. E não parece mais disposto a esperar por essa forma de pensar e agir. Nesse mundo muito veloz e V.I.C.A. (volátil, incerto, complexo e ambíguo) no qual vivemos, parece ser bem mais eficaz invertermos a ordem do pensamento incremental, pois quando chegarmos “lá”, o ponto de chegada pode não estar mais “lá”.

Os líderes bem sucedidos têm utilizado, curiosamente, uma lógica contrária: se conseguirmos visualizar bem o futuro desejado, a gente consegue planejar melhor o presente. Essa a base do pensamento exponencial!

O motivo? Um deles é derivado da tecnologia, que tem propiciado escalabilidade da oferta de produtos e serviços numa capilaridade e velocidade sem precedentes, possibilitando o que era julgado impensável: a customização em massa, ou seja, o atendimento de um volume monumental de clientes de forma customizada. Como se isso não fosse suficiente, os custos têm decrescido também em escala exponencial, fechando esse loop virtuoso e alimentando a oferta de produtos e serviços a preços muito mais acessíveis.

Tomemos como exemplo o setor de telecomunicações: o consumo de banda larga aumentou exponencialmente, de 50 petabytes, em 2014, para cerca de 200 petabytes, em 2019. Simultaneamente, o custo de gigabyte transmitido nos últimos 15 anos caiu aproximadamente 34 vezes. A diminuição no custo aumenta o consumo. Outros exemplos também confirmam essa tendência. Em 2007, o custo do sequenciamento do DNA de uma pessoa custava cerca de US$ 10 milhões. Já em 2014, esse custo foi de 1.000 dólares e, atualmente, gira em torno de 100 dólares. Ou seja, bastante acessível para um grande número de habitantes do planeta. Mais um exemplo: o custo de fabricação e, consequentemente, o preço de venda de um drone, que caiu de US$ 100 mil, em 2007, para 700 dólares, em 2013. Atualmente, um drone pode ser adquirido por cerca de 100 dólares no mercado internacional. Finalmente, um dado perturbador: ir com a família ao cinema uma vez pode corresponder a quatro vezes o valor da mensalidade da Netflix. Se sua família for ao cinema uma vez por semana, o custo da mensalidade da Netflix fica cerca de 16 vezes mais barato!

A consequência é inevitável: soluções disruptivas têm destruído negócios tradicionais da noite para o dia. A competição deixou de ser entre produtos, serviços ou entre marcas, passando a ser entre modelos de negócios criados a partir de uma nova receita, que incorporam competências inusitadas como meios de pagamento, sistemas de entrega muito rápidos, processamento online de dados volumosos etc. Além disso, vemos a substituição da “Filosofia da Propriedade” pela “Economia do Compartilhamento”. Some ainda a esse quadro uma pitada picante, ao oferecer um ingrediente que é a nova frente de batalha na guerra da competitividade: oportunidades para experiências únicas e emblemáticas do cliente na relação com a empresa. O intangível das emoções e sensações passa a ser tão ou mais importante que o tangível dos produtos e preços.

A angústia é inevitável para os líderes. Como liderar em “tempos do cólera” exponencial, tomando de empréstimo a metáfora do grande Garcia Marques, prêmio Nobel de Literatura. Como liderar empresas tradicionais, quando jovens empreendedores saem de zero a 1 bilhão de faturamento em cinco anos, criando as empresas unicórnios? Como liderar empresas que precisam deixar de pensar em crescer 10% ao ano, para aumentar dez vezes em dois ou três anos?

Se essas razões não puderem passar por suficientes resta perguntar: você se sente tranquilo, instalado na sua atual zona de conforto e colhendo os frutos incrementais do mundo confortável no qual construiu o seu modelo de sucesso? Ou se sente como um dinossauro apavorado (como disse Jorge Paulo Lemann, em uma conferência no ano passado) e já chegou à conclusão que precisa se reinventar como líder para começar a pensar e agir de forma exponencial, e, “apenas”, ainda não sabe como? Com a palavra, você, leitor!