O mercado brasileiro de investimentos no varejo, que soma nada menos do que R$ 1,5 trilhão, anda mais concorrido. Lideradas pela XP, outras corretoras independentes – e também bancos de investimentos – querem incomodar as grandes instituições, que concentram o dinheiro que o brasileiro tem para poupar. A cerca de dois meses da abertura de capital da XP, nomes como Genial, Guide, Easynvest, BTG e Original tentam atrair o interesse das pessoas físicas. No menu de ofertas, está a promessa de taxas mais baixas, menos burocracia e um leque variado de opções de investimento.

Apesar de esses nomes estarem ganhando destaque, o caminho para que eles sejam uma ameaça real aos bancos comerciais é longo e nada fácil. De acordo com dados de mercado, 95% dos investimentos dos brasileiros se concentram em cinco instituições: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa. A esperança de crescimento dos “desafiantes” reside na realidade dos Estados Unidos, onde as corretoras e outros agentes independentes concentram 90% dos investimentos, enquanto os grandes bancos focam sua atuação em áreas como crédito e meios de pagamento.

Entre os fenômenos que vêm reforçando o mercado das corretoras estão a queda da Selic – que ampliou a procura por rentabilidades maiores – e a evolução tecnológica das plataformas, que passaram a permitir que o cliente monte sua própria cesta de investimentos. “O setor passou a ter um modelo de negócios lucrativo graças à tecnologia”, diz Mario Malta, sócio do fundo americano Advent no País, que comprou, em março, fatia da corretora Easynvest.

Hoje, as corretoras viraram “supermercados de investimentos” (plataformas digitais em que há diferentes produtos para se investir, como papéis de renda fixa e ações ) – e a pioneira dessa metamorfose foi a XP, que apostou no segmento mesmo após o fracasso de plataformas como Patagon e Investshop, entre o fim dos anos 1990 e o início dos 2000.

Nesse esforço para continuar a ganhar a confiança do consumidor, muita gente no setor espera que a abertura de capital da líder XP, prevista para o início de julho, dê uma nova injeção de ânimo no segmento. Caso a perspectiva de arrecadação de R$ 5 bilhões da XP na estreia na Bolsa se confirme, a expectativa é que não só a companhia, mas todo o setor sinta os efeitos positivos.

Para Guilherme Horn, diretor de Inovação da consultoria Accenture, a abertura de capital da XP pode favorecer o mercado como um todo. “O IPO ajuda a dar credibilidade (ao setor), um atributo essencial quando o tema é investimento”, explica ele, que acrescenta que o valor da XP vai servir como uma referência para o mercado.

A atratividade do setor, segundo Marcio Cardoso, sócio da Easynvest, é evidenciada pela expansão do número de clientes. Em dezembro do ano passado, a corretora tinha 130 mil clientes e R$ 9 bilhões sob custódia. Quatro meses depois e após receber o aporte da Advent, são 170 mil pessoas em sua plataforma, que soma R$ 11,5 bilhões em recursos.

Um movimento semelhante ocorreu na Genial Investimentos, que hoje tem R$ 6 bilhões sob custódia e 150 mil clientes – sendo que 30 mil foram atraídos ao longo dos últimos 12 meses. Sócio-diretor da Genial, Eduardo Moreira afirma, porém, que não se trata de um jogo fácil, pois o segmento exige alta capacidade de investimento. “São diversas variáveis envolvidas na disputa pelo cliente, incluindo produto, tecnologia e marketing”, ressalta.

A questão da confiança, no entanto, ainda é uma barreira a ser vencida no Brasil, de acordo com Aline Sun, sócia da corretora Guide Investimentos. “O cliente apenas está começando a entender que não precisa centralizar tudo no banco”, pondera a executiva.

Para o analista Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating, não se pode falar num “boom” de corretoras, pois as empresas do ramo que continuaram no modelo de corretagem de ações da Bolsa não prosperaram. Ele acredita que há espaço para pioneiras, como XP e Easynvest, mas diz que serão poucos os exemplos de sucesso. “Para essas, há muito potencial relacionado à melhoria do mercado.”

Santacreu ressalta que o modelo de taxas baratas, também como o da XP, pode não ser viável para outras empresas. “A XP ganha no volume e na diversificação (de produtos).” Procurada, a XP não quis dar entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.