É inquestionável o sucesso da estratégia chilena de dominar o setor de vinhos no Brasil. Nos últimos 15 anos, o Chile tem se mantido como o principal provedor da bebida para os brasileiros, com uma participação que já ultrapassa 40% do mercado de vinhos finos que o Brasil importa. Manter essa liderança é um desafio para os produtores e para a instituição governamental que há 45 anos promove o vinho e demais produtos chilenos no mundo, a ProChile. Foi graças ao esforço conjunto do governo e do setor vitivinícola que a atividade se desenvolveu, se modernizou e passou a ocupar um espaço significativo na pauta de exportações do país encravado entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes. Entre os itens que o Brasil importa de lá, o salmão ocupa o primeiro lugar, contribuindo significativamente com a receita de US$ 602,74 milhões obtida em 2019. Isso porque 100% do salmão fresco vendido no Brasil vem do Chile. Como mais gente come salmão do que bebe vinho, a soma das exportações da bebida fica bem abaixo em valores: ela gerou um montante de US$ 149,70 milhões no ano passado.

 

María Julia Riquelme, diretora comercial da ProChile Brasil: mercado prioritário
María Julia Riquelme, diretora comercial da ProChile Brasil: mercado prioritário (Crédito:Divulgação)

Diante dos desafios impostos pelo coronovírus e da vertiginosa escalada do dólar (em parte motivada pela própria pandemia), o Chile sabe que poderá ter dificuldades por aqui. “O Brasil é um mercado prioritário para nós”, afirma a diretora comercial da ProChile Brasil, María Julia Riquelme. “Por muito tempo o Chile entrou no Brasil com grandes volumes de vinhos vendidos a preços acessíveis. Pouco a pouco, estimulamos o consumidor a conhecer produtos topo de gama.” María Julia se refere tanto às categorias Reserva e Gran Reserva quanto aos vinhos com denominação de origem – e, mais recentemente, aos orgânicos.

Nesse aspecto, um acordo firmado no ano passado entre os dois países estabelece a equivalência de homologação para produtos orgânicos. “O processo de certificação de orgânicos no Brasil era muito complexo e burocrático, o que restringia a oferta às grandes empresas”, diz a diretora da ProChile. Com a equivalência, passam a valer as certificações de cada país. Com isso, pequenos produtores de vinhos orgânicos do Chile já começam a colocar seus rótulos à disposição dos brasileiros. É o caso da vinícola Lautaro, que em 2019 participou da feira Naturebas, em São Paulo, e fechou um contrato de exportação para o Brasil. As garrafas da safra 2019 já chegam por aqui com certificado de orgânico do Brasil. Um passo importante não apenas para manter a posição de liderança do Chile, mas sobretudo para garantir condições a quem atua no vinho de forma sustentável.

 

Detalhe de um rótulo da Lautaro com certificação de orgânico do Brasil
Detalhe de um rótulo da Lautaro com certificação de orgânico do Brasil (Crédito:Reprodução/Lautaro Wines)