BEIRUTE (Reuters) – O líder do bloco cristão do Líbano, Movimento Patriótico Livre (FPM, na sigla em inglês), o maior do país, afirmou neste sábado que a investigação da explosão ocorrida ano passado no porto de Beirute, que deixou centenas de mortos, não deve ser interrompida.

A posição de Gebran Bassil contrasta com a do grupo xiita apoiado pelo Irã, Hezbollah, um aliado do FPM que se opõe à investigação e pediu que o principal investigador fosse removido.

Bassil falou dois dias depois de um espasmo de violência que surgiu por causa do inquérito. Sete muçulmanos xiitas foram mortos quando multidões estavam a caminho de um protesto contra o juiz Tarek Bitar, manifestação convocada pelo Hezbollah e seu aliado xiita Amal.

“O Movimento Patriótico Livre é a favor da continuidade da investigação, revelação da verdade e julgamento dos responsáveis”, afirmou Gebran Bassil, em um discurso.

Bassil, genro do presidente Michel Aoun, foi alvo de sanções dos Estados Unidos ano passado por suposta corrupção e seus laços com o Hezbollah. Bassil negou as acusações.

O líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou que a investigação é enviesada e politizada.

No sábado, Bassil disse que há evidências apontando para certo viés no decorrer da investigação, mas que não havia indícios de que o juiz foi corrompido.

A violência urbana de quinta-feira foi a pior em mais de uma década e retomou memórias da guerra civil do país entre 1975 e 1990.

O ministro da Defesa, Maurice Selim, disse que uma debandada e um conflito em Teyouneh levaram a uma troca de tiros entre os dois lados, acrescentando que o tiroteio precedeu a ação de um atirador de elite.

Na quinta-feira, o Exército havia dito que houve tiros contra manifestantes no momento em que eles passavam pela rotatória de Teyouneh que divide bairros cristãos e xiitas. Depois, afirmou que houve uma “briga e troca de tiros” à medida em que os manifestantes se dirigiam ao protesto.

APOIO AO JUIZ

A investigação da explosão de 4 de agosto de 2020, que matou mais de 200 pessoas e devastou regiões inteiras de Beirute, avançou pouco após uma campanha de difamação contra Bitar e reação de poderosas facções políticas.

O ministro da Justiça do Líbano, Henry Khoury, afirmou no começo deste sábado que apoia Bitar e que o juiz tem o direito de convocar quem quiser no caso, segundo a emissora de televisão Al Jadeed.

Khoury também disse que não lhe haviam pedido que nomeasse um novo juiz para lidar com a investigação.

“Eu apoio o… investigador”, teria dito Khoury. O ministro acrescentou que ele não tinha autoridade para substituir Bitar e que ele não estava sendo pressionado a fazê-lo.

O conselho judicial mais importante do Líbano se reunirá com Bitar na terça-feira para ouvir suas opiniões sobre como a investigação está progredindo, disseram fontes judiciais.

A violência de quinta-feira aumentou a preocupação com a estabilidade do país, inundado por armas e mergulhado em um colapso econômico.

O Hezbollah culpou o partido Forças Cristãs Libanesas pelas mortes, uma acusação que o líder do partido, Samir Geagea, negou.

(Por Maha El Dahan e Omar Fahmy)