“Eu prefiro me demitir porque você é um líder cringe!” Essa foi a sentença com a qual um jovem talento encerrou uma reunião via vídeo. Ele tinha sido recrutado havia menos de três meses pela empresa de um cliente que me ligou aflito, preocupado com o que percebia ser uma espécie de insubordinação e xingamento.

Após acalmá-lo e, confesso, rir um pouco, tentei explicar o significado desse termo, cujo uso tem crescido de maneira exponencial nas últimas semanas. Falei que é a maneira de alguns jovens nascidos a partir do ano 2000, com “um jeito startup” de levar a vida, criticar a forma de pensar, agir e falar daqueles que fazem parte da geração anterior.

Mais do que uma gíria, continuei, esse termo indica um divisor de águas de preferências, moda, valores, entre outros aspectos. A lista de significados é infindável e varia muito se usada numa conversa em inglês, espanhol ou no nosso idioma, como bem constatou o professor Polito, ícone da oratória no Brasil, em recente artigo publicado sobre essa palavrinha, que tem ferido ouvidos e, até mesmo, o coração de muita gente. Talvez seja um modismo e, quem sabe, terá caído em desuso quando este texto for publicado. Acho até que, em breve, seria cringe chamar alguém de cringe…rs.

Lembro da minha geração chamando de “boko moko” (terrível recordação) as pessoas da geração anterior. Também havia a insinuação de que “fulano não é nenhuma Brastemp, mas resolve”, quando queria elogiar parcialmente um profissional ou um relacionamento afetivo (outro horror).

Pois bem, trouxe essa conversa à tona para aproveitar a oportunidade e provocar sua reflexão sobre o conteúdo desse termo no mundo da liderança.

O que seria um “Líder Cringe”?

Você vai ler a seguir um check list de atitudes e crenças apontadas em uma enquete informal, realizada recentemente com 30 jovens talentos de uma determinada empresa, durante uma palestra que realizei. As características mais recorrentes consideradas cringe por esse grupo são:

• Baixo grau de inteligência emocional;

• Alta incoerência entre o que diz e o que faz;

• Considerar-se perfeito, ou seja, sem defeitos e nunca erra;

• Achar a liderança inata, transmitida via DNA (lembra-se de “filho de peixe…”?);

• Acreditar que liderança é sinônimo de carisma;

• Pensar que existe um estilo ideal de liderança;

• Apregoar a supremacia da liderança masculina;

• Considerar líder eficaz aquele com muitos seguidores;

• Ser inflexível;

• Se comportar com base em preconceitos;

• Cobrar só resultados quantitativos e desprezar os qualitativos, incluindo respeito à natureza, satisfação das pessoas, clima organizacional, satisfação de clientes e sentimentos das equipes;

• Gestão do tempo inadequada: sempre com sobrecarga porque não delega;

• Falta de harmonia entre as diferentes dimensões da vida: trabalho, saúde, amigos, família, cidadania e vida espiritual;

• Repertório limitado, com pouco conhecimento sobre assuntos fora do ambiente do trabalho, tais como: artes, culinária, esportes e lugares;

• Sisudez excessiva e mau humor constante.

Poderia continuar essa lista já extensa, mas entendo ser mais adequado e produtivo mostrar caminhos que constituem a escolha por ser um líder inspirador, por meio de algumas características específicas, já apontadas nesta mesma coluna. Líderes inspiradores são os que:

• Definem com clareza o propósito comum, oferecendo às pessoas aquilo que mais desejam: um significado para suas vidas;

• Formam outros líderes e não apenas seguidores, valorizando o maior legado que pode ser deixado para o futuro da organização ou da sua família;

• Cuidam do todo e não apenas da parte, pois não comandam apenas uma equipe de subordinados dentro das paredes de uma empresa. Exercem a liderança também “fora” da empresa, para cima e para os lados;

• Fazem mais que o combinado e surpreendem pelos resultados, não apenas quantitativos e financeiros, mas por um conjunto de fatores que garantem a sustentabilidade do negócio;

• Inspiram pelos valores, criando um ambiente de ética, integridade, confiança, respeito, transparência, aprendizado contínuo, inovação, paixão e humildade.

Espero que esses pontos sejam úteis para refletirmos sobre o tipo de líder que precisamos ser para lidar adequadamente com o futuro. E também com essa nova

geração de talentos, que pensa e age de forma diferente das gerações anteriores. Afinal, precisamos ser o agente da transformação que desejamos e que o momento exige.