Em evento internacional do banco Credit Suisse, realizado em São Paulo (SP), na última terça-feira 28, os renomados ex-presidentes do Banco Central do Brasil (BC) Armínio Fraga Neto, Gustavo Franco e Pérsio Arida do governo Fernando Henrique Cardoso debateram e avaliaram que o atual governo brasileiro é mais liberal na economia no discurso, do que na prática. “Esse projeto econômico dito pró-mercado, liberal é um casamento arranjado. Não dá para reclamar, não é amor sincero, mas funciona”, diz Gustavo Franco.

Já Pérsio Arida afirma que o governo é muito menos liberal do que no discurso. “A abertura comercial não foi iniciada. O programa de privatizações é uma decepção, não anda. Privatizar subsidiárias é uma enganação. Privatização é quando se vende a companhia”, diz. O economista observou, por exemplo, que a atual equipe econômica teve a oportunidade de eliminar as “bizarrices” da poupança compulsória e não o fez. “O Fundo de Amparo de Trabalhador (FAT) empresta dinheiro para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social), uma bizarrice, e o governo liberal não acabou com isso”, afirma. Arida também notou que a equipe econômica dita liberal não conseguiu resolver a questão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). “Se facilitou o acesso ao trabalhador, mas a Caixa Econômica Federal continua sendo monopolista do FGTS”, diz. “Ninguém mexeu com isso, porque os funcionários da Caixa e do BNDES não ficariam felizes”, afirma. Arida completa que a equipe econômica tem sido tímida nas medidas enviadas ao Congresso Nacional. “As propostas já são tímidas de início, são vacilações. O Parlamento está no papel dele de diluir o que vem do Executivo”, afirma.

Armínio Fraga também se mostrou decepcionado com o resultado final da reforma da Previdência Social. “É um Estado grande, quebrado, incapaz de produzir um mínimo de igualdade, num ambiente envenenado, em que o Estado não investe mais nada”, diz. Ele aponta que o governo precisa ainda reduzir gastos com funcionalismo, previdência dos servidores e com subsídios cruzados. “A casa ainda não está arrumada”, afirma o economista.