Os libaneses comparecem às urnas neste domingo (15) para as primeiras eleições parlamentares desde a explosão de várias crises que deixaram o país à beira do colapso.

Apesar da grave situação econômica, social e política, com o descontentamento manifestado na revolta popular de 2019, os analistas não esperam grandes mudanças no Parlamento, que provavelmente ficará nas mãos dos partidos que controlam o país há mais de três décadas.

As urnas fecharam às 19h locais (11h de Brasília). Algumas regiões já começaram a apuração, mas os resultados devem ser anunciados na segunda-feira.

O fluxo de eleitores era fraco no meio do dia na maioria das regiões. A imprensa local informou que vários locais de votação registraram cortes de energia elétrica, apesar das promessas do ministério do Interior de que a rede não seria afetada.

Um grande dispositivo de segurança foi mobilizado para as eleições, nas quais quase 3,9 milhões de libaneses estavam registrados para votar.

– Incidentes e agressões –

Mas em regiões com forte presença do movimento xiita Hezbollah, foram relatados muitos incidentes entre apoiadores de partidos rivais.

De acordo com a Associação Libanesa para a Democracia das Eleições(LADE), encarregada de supervisionar o processo eleitoral, vários de seus membros foram atacados nas assembleias de voto, especialmente na região de Bekaa (leste), reduto do Hezbollah.

Na mesma região, o partido cristão Forças Libanesas, firmemente contrário às armas do partido xiita, disse em um comunicado que vários de seus delegados foram espancados e expulsos dos locais de votação.

A LADE também divulgou um vídeo em que apoiadores do Hezbollah assediam um candidato independente em um subúrbio ao sul de Beirute, outro reduto do poderoso movimento pró-Irã.

Nessa área do sul de Beirute, um homem foi preso pelas forças de segurança por ter insultado o presidente libanês, Michel Aoun, ao deixar uma assembleia de voto, indicou a mídia local.

– “Motor” de mudança –

As eleições foram organizadas sob uma lei de 2017 que dá vantagem aos partidos no poder. O principal líder sunita, Saad Hariri, não participou.

O atual Parlamento é dominado pelo Hezbollah, em aliança com o partido xiita Amal, do presidente da Câmara, Nabih Berri, e com a formação cristã Corrente Patriótica Livre (CPL), do presidente do país.

Desde a última eleição, em 2018, o país foi sacudido por protestos, por uma grande explosão no porto de Beirute e por um agravamento da crise econômica.

A libra libanesa registrou desvalorização de 95%. As poupanças dos libaneses foram bloqueadas nos bancos, o salário mínimo é insuficiente para completar o tanque de gasolina e a energia elétrica está disponível apenas por algumas horas ao dia.

Mais de 80% da população é considerada pobre, segundo de acordo com os índices da ONU, e isto leva os mais desesperados a tentar fugir para a Europa em viagens perigosas.

Alguns grupos que surgiram da revolta da população esperam conquistar um espaço no Parlamento, mas o objetivo pode ser dificultado pelo fato de que concorrem de maneira separada e sem uma frente unida.

No total, 718 candidatos, incluindo 157 mulheres, disputaram as eleições, que para a comunidade internacional representam uma condição indispensável para o possível envio de ajuda financeira.

“O colapso econômico é o principal motor de uma mudança, pois os aspectos político, social e de segurança são essencialmente consequência da crise econômica”, declarou Sam Heller.