Elas são herdeiras do que é provavelmente a maior marca no segmento. Esse tipo de legado sempre traz uma vantagem, um fardo e um desafio. A vantagem é não precisar começar do zero. O fardo é mostrar que conhecem tão bem do assunto quanto a primeira geração. O desafio é inovar. Essa tem sido a jornada das irmãs Carolina e Mariana Sodré Santoro, que comandam a Sodré Santoro, uma das casas mais tradicionais de leilão no País, em atividade há 42 anos. Filhas de Luiz Eduardo, cofundador ao lado do irmão José Eduardo, as integrantes da segunda geração já batem o martelo nos pregões há dez anos e, no segundo semestre de 2020, assistiram à retomada gradual dos negócios após queda acentuada no início da crise sanitária, em meados de março. “Apesar disso, tivemos aumento de 25% no número de lotes ofertados entre janeiro de 2020 e agosto de 2021”, disse Mariana. “E os valores médios de vendas dos lotes tiveram alta de 30% no período”, afirmou Carolina.

O crescimento dos negócios segue em 2021, embalado também pela volta dos leilões presenciais, após período de transações 100% on-line. E, sem perder tempo, a dupla preparou novidades para incrementar o portfólio de produtos. A principal será a realização, dia 23 deste mês, de um pregão de moda. Segundo elas, a iniciativa é inédita no Brasil. Serão oferecidas 74 peças de grifes nacionais e estrangeiras. Algo pouco comum para quem, além de veículos, se acostumou a leiloar imóveis e outros itens de fácil saída, como eletrodomésticos e informática, além de sucata.

Apesar das novas frentes, o forte ainda está sobre rodas. Desde o começo do ano, a Sodré Santoro negociou em média 5 mil veículos por mês — e 20 imóveis. No caso dos veículos, principalmente os automóveis, houve aumento da procura nos últimos meses, devido à crise de produção de algumas montadoras por falta de componentes como chips. Uma alta que anima o setor, obrigado a se transformar no ano passado em razão das restrições sanitárias que impediram, por exemplo, os leilões presenciais e, no caso principalmente dos carros, a visita aos pátios para análise do produto. O jeito foi apelar à tecnologia e centralizar as operações digitais. A atenção especial ao segmento de carros está refletida nos números. Os leilões de veículos movimenta anualmente cerca de R$ 15 bilhões, segundo dados da Associação da Leiloaria Oficial do Brasil (Aleibras). No entanto, o número de aquisições em pregões no Brasil ainda é muito baixo em comparação a outros países. Não chega a 10% do total comercializado, contra 95% nos Estados Unidos.

Apesar da satisfação pela retomada gradual dos leilões presenciais, as irmãs acreditam que o modelo passará por adequação em comparação à época pré-pandêmica. “Diante da facilidade de você ter condições de fazer tudo de casa, acredito que a situação não vai voltar ao que era antes”, afirmou Mariana. “Se tínhamos 400 pessoas em um auditório para um leilão físico, agora vamos ter talvez 100. Pessoas que estão acostumadas ao presencial.” Se na Sodré Santoro o presencial ainda era forte, no mercado como um todo a mudança para o on-line já havioa ocorrido. Segundo a Aleibras, antes da crise sanitária 95% dos pregões já aconteciam de maneira virtual e apenas 5% fisicamente. Independentemente do caminho, físico ou virtual, as irmãs são unânimes ao responder sobre qual característica é imutável para a perpetuidade do negócio. “A confiança”, afirmam as herdeiras.