Talvez a mais alvissareira notícia dos últimos tempos tenha sido a venda de quatro blocos de concessões da Cedae pelo governo do Rio – em pleno período de impeachment do agora destituído Wilson Witzel. Os lotes saíram com ágio de até 188% e arrecadaram nada menos que R$ 22,7 bilhões. A boa constatação foi a da existência de players com recursos no mercado ainda motivados a investir. O leilão da Cedae é considerado pelo governo o maior projeto de infraestrutura do País atualmente, com investimentos previstos da ordem de R$ 30 bilhões, o que pode representar um sopro de esperança em meio à quase total paralisia de recursos no setor de Infraestrutura. Com os cortes seguidos nas verbas públicas de investimento, não há de onde tirar e expandir a malha de obras necessárias ao desenvolvimento. O repasse da Cedae mostrou um caminho viável, trazendo a reboque a iniciativa privada. Outros certames no mesmo modelo estão previstos para breve. Não são poucos os planos nessa área do saneamento. O BNDES, por exemplo, promete outros cinco novos leilões do setor, a serem realizados até o primeiro semestre do ano que vem. Os projetos do Amapá, Porto Alegre e Rio Grande do Sul deverão ser executados ainda neste ano. Já os do Ceará e Alagoas, em 2022. No total, serão R$ 17 bilhões de investimentos para universalizar e modernizar os serviços de água e esgoto para 10,4 milhões de pessoas. Equivale não apenas uma meta social fabulosa, como a um resultado econômico que chega em boa hora. Cada licitação vai seguir modelo diferente, dependendo da área – algumas delas por meio de concessão plena, que inclui a produção e a distribuição, e outras por meio de Parcerias Público-Privadas (PPIs), como foi o caso da própria Cedae. O BNDES ainda avança em negociações para fazer a modelagem de venda nos estados de Pernambuco, Paraíba e Rondônia. É por aí que recursos públicos alternativos devem vir a aparecer. Por enquanto, a conquista da Cedae correspondeu a um marco histórico no campo da infraestrutura. Espécie de vitrine para atrair outros negócios. De uma forma ou de outra, a maratona de leilões de infraestrutura pode provocar mais de R$ 48 bilhões em novos investimentos no País, ao longo dos próximos 35 anos. Nessa conta, incluídos também os aeroportos concedidos. Os projetos serão executados por grandes operadores que já atuam no Brasil, uma tendência que deverá se repetir, segundo os especialistas, nos próximos leilões. A ausência de novos investidores estrangeiros não é bom sinal. Demonstra que a desconfiança externa continua alta quanto ao futuro do País, especialmente no campo político.

Carlos José Marques, diretor editorial