A tradicional casa de leilões londrina Sotheby’s promove nesta quarta-feira (17) o primeiro leilão totalmente dedicado a peças de ouro, informou a CNN. Entre atrações, o evento oferecerá uma Ferrari complemente dourada, um busto sólido da modelo britânica Kate Moss e uma cadeira feita especialmente para Napoleão Bonaparte.

O evento combinará peças antigas e contemporâneas, incluindo ainda jóias, esculturas, imagens, textos e objetos religiosos.

Cadeira de Napoleão Bonaparte, datada de 1804

O leilão, apelidado de “The Midas Touch” (O Toque de Midas) destaca o apelo longevo do metal ao longo da história da humanidade, afirmam os organizadores. No entanto, a mostra também gerou críticas de historiadores e analistas que afirmam que a coleção promove uma extravagância desnecessária aos valores modernos.

De acordo com o diretor sênior da Sotheby’s, Constantine Frangos, o evento foi organizado pela crescente valorização do metal e o aumento da sua demanda na Ásia, Rússia e Oriente Médio.

“Hoje, obras de arte em ouro e, claro, jóias de ouro, têm um apelo internacional, e já vimos interesse de todo o mundo por obras a venda no leilão”, disse.

A coleção foi organizada para abranger exemplos do uso decorativo do ouro ao longo de diversos períodos históricos. Estará exposta desde uma imagem de Bodhisattva Avalokiteshvara, datada do século VII ou VIII, até obras contemporâneas de Yves Klein e Marc Quinn, incluindo um busto maciço da modelo Kate Moss.

“Eu acho que essa venda realmente reflete a atemporalidade do ouro”, disse Frangos, acrescentando que, embora o trabalho de Quinn e a imagem de Bodhisattva estejam separados por mais de mil anos, comparações podem ser feitas entre os dois trabalhos.

“Ambos usam o ouro para criar peças reverenciadas e glorificadas, fazendo do uso deste material precioso a imagem perfeita”, acrescenta.

A Sotheby’s espera atrair lances de até 400 mil libras (R$ 1,9 bilhão) para a escultura de Quinn. Uma cadeira cerimonial, encomendada para a Sala do Trono de Napoleão Bonaparte, no Palais de Tuileries e datada de 1804, tem uma estimativa de 300 mil libras (R$ 1,4 bilhão).

Já uma Ferrari 512 BB, de 1997, totalmente feita em ouro, está especulada em 450 mil libras (R$ 2,2 bilhões). Porém, caso o interessado não disponha de tantos recursos, estarão disponíveis  réplicas de cálices de ouro do povo Etrusco por módicas 4,5 mil libras (R$ 22 mil).

Luxo e extravagâncias geram críticas

O apelo luxuoso e extravagante das peças gerou crítica de historiadores de arte. Os especialistas afirmam que o leilão sintetiza a crescente desigualdade entre ricos e pobres em todo o mundo.

Gauvin Bailey, professor de história da arte na Queen’s University, no Canadá, disse que, como a sociedade contemporânea está “cada vez mais dividida entre os que tem e os que não tem, o ouro e suas promessas de riqueza e fama instantâneas continuam capturando nossa imaginação.”

Adaga do século XIX

“O ouro inspira as pessoas a sonhar com a fuga, mas também inspira ressentimento e indignação”, disse ele. “A capacidade do ouro de inundar o mercado e causar desastres financeiros também fez do metal uma fonte perene de medo”, complementa.

Para Alison Wright, professora de história da arte na University College, em Londres, o investimento em ouro como símbolo de riqueza – e não apenas pela satisfação material -, é algo fascinante.

“O valor do ouro é cultural e economicamente determinado, e de modo algum é igualmente valorizado em todas as sociedades em todos os momentos”, afirmou.

Bailey destaca o busto da modelo Kate Moss, de Quinn, como algo que “fala muito sobre as preocupações de hoje.”

“Como sociedade, estamos cada vez mais obcecados por celebridades – desde Kim Kardashian até os elevadores de ouro da Trump Tower -, ainda que conscientes de como a objetificação das mulheres prejudica pessoas reais”, acrescentou.