Equilibrar os opostos e tirar disso alta performance parece ser a vocação de Carlos Alberto Iwata Marinelli. O CEO do Grupo Fleury descende de nipônicos e italianos, extremos em termos de personalidade cultural. Um certo paradoxo que ele vive também em seu dia a dia profissional. Marinelli conduz uma empresa quase centenária, num ambiente que tem aversão ao risco (a saúde), sem no entanto deixar de inovar. “Não posso errar”, afirmou. “Mas ao mesmo tempo só posso seguir em frente se criar condições para a transformação constante.” É trabalho cirúrgico. E de sangue frio.

A gestão de Marinelli, que está há 15 anos no grupo e é CEO há seis, trouxe uma coleção de resultados, que culminaram na eleição no setor Saúde em AS MELHORES DA DINHEIRO 2020. A margem Ebitda no período variou de 17,8% (2014) para 24,8% (2019). A receita bruta cresceu de R$ 1,7 bilhão (2014) para R$ 3,1 bilhões (2019). E o lucro líquido saiu de R$ 85,8 milhões (2014) para R$ 312,3 milhões (2019). Mas veio a pandemia. Entre os primeiros semestres de 2019 e 2020, a receita caiu de R$ 1,429 bilhão para R$ 1,168 bilhão, levando junto o lucro líquido: de R$ 165 milhões (2019) para um prejuízo de R$ 14 milhões (1º semestre de 2020).

Parte do resultado está ligada à decisão de não demitir. “Não cortamos porque é muito difícil construir o nível de profissionais que temos”, afirmou. São 13 mil colaboradores, incluindo os quase 2,5 mil médicos, espalhados por mais de duas centenas e meia de endereços. Entre os executivos do grupo, houve redução de 25% dos salários por dois meses, mas isso não foi aplicado ao time da ponta. A decisão de não mexer nos custos da folha e, paralelamente, aumentar as despesas com o aumento de atendimentos realizados em domicílio nada teve de aleatória. “Uma cabeça somente financeira, de sair cortando custos, poderia em pouco tempo nos deixar não aptos para recuperar o nível de atendimen-to dos clientes.” E manter no topo o NPS (Net Promoter Score), que avalia a satisfação do consumidor, é item inegociável na fórmula de sucesso do Grupo Fleury. No último trimestre, o indicador estava em 76,7 (dentro do corte mais alto).

Carlos Alberto Iwata Marinelli Empresa: Grupo Fleury Cargo: CEO Principal realização da gestão: Iniciar a transformação cultural e de negócios do Grupo Fleury de uma medicina diagnóstica para uma companhia one stop shop no segmento de saúde.

Administrador pela FGV, onde também fez mestrado, Marinelli sabe que seu papel não permite olhar apenas o curto prazo. “A gente tem uma grande possibilidade pela frente”, afirmou. E ela não foi desenhada pela pandemia. O crescimento do atendimento na casa das pessoas já era contemplado nas projeções da companhia. Tanto que em dezembro foi lançado o Campana Até Você, laboratório 100% digital, do agendamento à coleta em casa. Nas projeções do Fleury, o custo com atendimentos em domicílio fará parte dos novos hábitos. Para compensar as despesas a mais, a saída estará em novas receitas. Marinelli só enxerga oportunidades.

“A tecnologia permitiu uma mudança cultural. Nossa interação com a saúde vai ser 99,9% fora de um hospital” Carlos Marinelli, CEO do Grupo Fleury.

A primeira é ter um ajuste muito mais preciso entre oferta e demanda no atendimento domiciliar. Ele compara a sanfonar um avião de acordo com o número de passageiros. Numa unidade física, em situações normais toda a estrutura estará sempre 100% disponível, ociosa ou não. Aí aparece a segunda chance. “Na unidade de atendimento, normalmente um endereço muito bem localizado, com estrutura, você pode alavancar outros serviços”, afirmou, citando soluções de procedimentos cirúrgicos de baixa complexidade ou de atenção primária à saúde. “Independentemente da margem, é uma receita nova que vem sobre um capital que já foi investido. E temos uma ambição muito grande com elevação de receita em outros procedimentos.”

A frente que mais atrai a atenção dentro da empresa, no entanto, está mesmo na transformação digital. O CEO do Fleury diz que o propósito do grupo é estar no dia a dia das pessoas, provendo saúde e bem-estar para sua plena realização. Mas ele mesmo se questiona se a primeira parte dessa missão (“estar no dia a dia das pessoas”) é realizada. E de forma transparente responde que não. Até agora. “As pessoas só se lembravam da gente na hora de fazer o exame, ou a partir do momento que procuraram um médico”, afirmou Marinelli. O que o grupo quer é ser lembrado ao longo de toda a jornada. Algo como pensou saúde, pensou Fleury.

Para estar inserido de fato nesse dia a dia, Marinelli abraçou a tecnologia e quer tornar-se uma plataforma de soluções. Uma espécie de healthplace. Ou one stop shop, para usar uma definição da tecnologia. Um ambiente referencial. Para isso, ele enumera as unidades “estrategicamente bem posicionadas”, o atendimento sendo iniciado digitalmente pelo celular, os cuidados com atenção primária, diagnósticos e pequenos procedimentos. Tudo envolvendo o médico de seu paciente. “A gente quer estar nesse continuum.” O objetivo é transformar a maneira como todos se relacionam com a saúde, e torná-la mais sustentável para que esteja acessível a mais pessoas. “Se puder colocar um tijolo nessa direção, estarei feliz.” Será seu legado.

As melhores

1. GRUPO FLEURY 473,98 PONTOS

2. HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ 424,63 PONTOS

3. HOSPITAL NIPO BRASILEIRO 405,20 PONTOS