A lava do vulcão Cumbre Vieja na ilha espanhola de La Palma (ilhas Canárias, sudoeste) perdeu velocidade, mas avança sem freio, multiplicando os estragos em sua passagem diante da impotência dos moradores.

A lava “diminuiu o ritmo, mas segue seu caminho inexorável”, alertou o presidente regional das Ilhas Canárias, Ángel Víctor Torres, em coletiva de imprensa, aconselhando os moradores a não tentarem nada contra ela e a evitarem manobras que os coloquem em perigo.

“Diante do avanço da lava, que é muito alto, nada pode ser feito”, disse.

“Nem uma barricada, nem um fosso, nem um parapeito, de forma alguma, vão deter o avanço da lava. Quem me dera fosse assim, mas não é, é impossível”, insistiu.

A erupção, que começou no domingo (19), já arrasou 154 hectares e destruiu 320 edificações, informou nesta quarta-feira o sistema de medição geoespacial europeu Copernicus. Este novo balanço representa um aumento notável em comparação com seus últimos dados.

Um mapa atualizado “situa a extensão da lava em 154 hectares, e o número de edificações destruídas, em 320”, relatou o Copernicus em um comunicado publicado nas redes sociais, em contraste com as 185 edificações e 103 hectares de seu boletim anterior.

A chegada da lava ao mar preocupa, devido às reações que provoca, mas que não são mais tão certas, porque essas colunas ardentes estão perdendo velocidade.

“Os fluxos avançam muito lentamente. Avançaram 12 metros em 12 horas”, relatou o presidente regional.

– Não é certo que chegue ao mar –

Neste momento, “não temos certeza de que o avanço culminará no mar”, destacou o diretor técnico do Plano de Emergências Vulcânicas das Canárias (Pevolca), Miguel Ángel Morcuende.

O vulcão “continua soltando lava. O fluxo segue avançando lentamente, o que corresponde a um aumento claro da viscosidade e, principalmente, do preenchimento de determinados buracos naturais no terreno. Estamos falando de uma cavidade”, disse Morcuende.

A chegada da lava ao mar é temida, particularmente, porque pode gerar explosões, ondas de água fervente, ou nuvens tóxicas, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).

“Estamos em uma minizona de estabilidade agora, que não sabemos quanto tempo vai durar, porque já fomos avisados de novos episódios explosivos”, acrescentou Morcuende.

O que o fluxo de lava está fazendo agora “é ganhar altura. Há áreas, onde já apresenta 15 metros de espessura”, afirmou o porta-voz do Instituto Vulcanológico das Canárias (Involcan), David Calvo.

O Involcan estimou, nesta quarta-feira, que a erupção pode durar “entre 24 e 84 dias, com uma média geométrica da ordem de 55 dias”.

Primeira erupção do Cumbre Vieja desde 1971 nesta ilha de 85.000 habitantes, o fenômeno provocou a retirada de 6.100 pessoas, entre elas 400 turistas. As outras 5.700, moradores locais, viram-se obrigados a deixar suas casas, às vezes, em questão de minutos.

Até o momento, não há informações sobre vítimas.

“Têm sido dias realmente duros”, tuitou o presidente da Câmara Municipal de La Palma, Mariano Hernández Zapata.

“Ouvir quem perdeu tudo e quem sabe que vai perder é frustrante”, desabafou.

Segundo ele, “o que se vive em La Palma é angústia e dor”, angústia de quem teme perder tudo, dor de quem já perdeu.