Não é novidade que a disputa entre as duas maiores estrelas da indústria de software ? Microsoft e Oracle ? é menos limpa do que deveria. O que não se imaginava é que ela envolvesse revirar latas de lixo e oferecer suborno para funcionários que cuidam da limpeza de instituições. Pois o vaidoso fundador da Oracle, o multibilionário Larry Ellison, revelou na semana passada ter contratado arapongas para vasculhar o lixo de grupos lobistas pró-Microsoft, à procura de evidências de ligação econômica entre essas organizações e a companhia de Bill Gates. Na quinta-feira, 29, quando os americanos se preparavam para curtir o feriado prolongado de 4 de julho, o próprio Ellison admitiu publicamente o passo em falso. Não que ele veja nada de errado no episódio. ?O que nós fizemos foi expor o pequeno watergate da Microsoft?, disse. ?Se não fossem reveladas, essas organizações de fachada da Microsoft poderiam ter influenciado indevidamente um dos processos mais importantes da história.? Gates não gostou do golpe baixo e reagiu: ?É um esquema sujo para desmoralizar a Microsoft perante a opinião pública?.

No dia seguinte, mais uma surpresa que abalou a posição confortável da Oracle no mercado: o presidente Raymond Lane, o segundo homem na hierarquia da empresa, pediu demissão. É claro que Ellisson fez de tudo para desvincular a renúncia de Lane do escândalo de espionagem industrial, causado pelas travessuras dos detetives. Não adiantou. As ações da Oracle, que vinham resistindo ao vendaval de desvalorização da Nasdaq, caíram 4,6% na segunda 3, e chegaram, na quinta-feira 5, com queda acumulada de 12%. Ray Lane, que viria ao Brasil no final do mês para participar do evento Oracle Open World 2000, não deu nenhuma explicação para sua saída. Muitos acreditam que Lane se cansou de viver à sobra de Ellison ? e ter que aturar o temperamento explosivo da nova estrela do mundo da informática. O episódio da espionagem na Microsoft teria sido a gota d?água para a decisão do executivo.

Com 53 anos, e no comando da companhia há quatro (no total, foram oito anos), ele era visto pelos especialistas como o principal responsável pela virada positiva da Oracle. Foi durante a sua gestão que as ações da empresa dispararam de US$ 9 para US$ 80. Há pouco mais de 15 dias, Ellison divulgou um dos melhores resultados da história da companhia: lucro recorde de US$ 926 milhões, e a ascensão ao clube das empresas com faturamento de US$ 10 bilhões. Para evitar que a sangria seguisse no mercado de ações, Ellison anunciou que assumiria pessoalmente o comando das áreas deixadas por Lane, sobretudo a de criação de grandes sites de negócios para corporações. No meio da crise, Ellison tinha um bom motivo para comemorar: a cruzada anti-Microsoft que ele lidera a vários anos finalmente está tendo resultado. Com sede em Redwood, Califórnia, a Oracle é a maior e mais tradicional fornecedora de bancos de dados, os programas usados pelas empresas para armazenar informações. A empresa opera em 146 países e faturou R$ 267 milhões no Brasil do ano passado. Sem sujar as mãos no lixo.