Prestes a estrear a sua quinta temporada na Netflix, La Casa de Papel se tornou um fenômeno e a maior série de língua não inglesa da plataforma desde a sua entrada no catálogo, há quatro anos. Isso só foi possível porque o serviço de streaming salvou a atração do fracasso na TV espanhola e a transformou em sucesso mundial.

Alguns fãs não sabem, mas La Casa de Papel não surgiu como uma produção original Netflix. A série criada por Álex Pina foi exibida originalmente na rede espanhola TV Antena 3 em 2017 e chamou a atenção do público local, com os seus primeiros episódios conquistando bons índices de audiência.

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O interesse dos espanhóis, no entanto, foi caindo consideravelmente ao longo dos episódios. Com o término da primeira temporada, os produtores de La Casa de Papel já contavam com o cancelamento iminente da atração.

“Sucesso? Não, La Casa de Papel foi um fracasso. Ao contrário do que parece, a vida da série é uma história de fracasso. A Antena 3 cortou o número de episódios planejados”, contou Javier Gómez Santander, roteirista da série, em entrevista à emissora norte-americana CNBC.

Pina e Santander até confiavam no potencial de sua obra, mas a vida curta de La Casa de Papel na rede espanhola já estava decretada. A primeira temporada de 15 episódios da atração encerrou a sua jornada com audiência baixíssima e o cancelamento oficializado. A história deu uma reviravolta quando a Netflix entrou na jogada pouco após a exibição da série na Antena 3. O serviço de streaming decidiu comprar os direitos da atração e transformou os 15 episódios em 22, separando-os em duas partes.

Há uma lenda envolvendo a negociação entre Netflix e Antena 3 de que a gigante do streaming teria pago apenas US$ 2 (R$ 10,40) pelos direitos de La Casa de Papel. Apesar de os valores reais nunca terem sido divulgados, a história do baixíssimo número foi reforçada por Andy Harries, produtor britânico que trabalhou com Álex Pina na criação da série White Lines.

“Na época, ele [Pina] tinha feito e transmitido duas temporadas de La Casa de Papel. A série já tinha saído na Espanha, e ele estava quase desistindo. Literalmente três meses depois, a série foi cancelada na Espanha e comprada pela Netflix por apenas US$ 2. Eles adquiriram sem fazer qualquer promoção e, em apenas duas semanas, era a número um do mundo”, contou Harries em bate-papo com a imprensa durante o Bafta 2019.

O próprio elenco de La Casa de Papel se surpreendeu com o sucesso inesperado da série após a estreia no serviço de streaming. Muitos dos atores se assustaram quando começaram a ver o número de seguidores nas redes sociais aumentar exponencialmente.

Em entrevista ao documentário La Casa de Papel: O Fenômeno (2020), disponível na Netflix, Santander descreveu o tamanho de sua surpresa com a repercussão da série. “Ela foi para a Netflix, mas não era nada demais. Estava ali apenas para completar o catálogo básico. E depois… O resto é história”, contou.

O sucesso absoluto conquistado pela série fez a Netflix encomendar mais duas novas temporadas, que estrearam no catálogo em 2019. Com apenas uma semana disponível na plataforma, a terceira parte de La Casa de Papel foi vista por mais de 34 milhões de contas – segundo dados divulgados pelo próprio serviço de streaming à revista Variety.

O resultado na primeira semana de estreia da terceira parte transformou La Casa de Papel no maior lançamento de uma série de língua não inglesa da Netflix. A atração foi a mais vista em países como Brasil, Estados Unidos, Argentina, França, Itália e Chile. À Variety, Pedro Alonso (que interpreta o malandro Berlim na série) ressaltou que La Casa de Papel colocou as produções espanholas em pé de igualdade com o conteúdo produzido nos Estados Unidos, referência em todo o mundo.

Desde a sua estreia na Netflix, La Casa de Papel recebeu inúmeros prêmios ao redor do mundo, incluindo o de melhor série de drama no Emmy Internacional de 2018. A primeira parte da quinta temporada tem estreia prevista para 3 de setembro, enquanto a segunda chega em 3 de dezembro.