O Kremlin considerou “positivo” nesta sexta-feira (16) o apelo de Joe Biden para a desescalada entre Estados Unidos e Rússia, estimando que Vladimir Putin está de acordo, o que poderia concretizar uma cúpula entre os dois presidentes.

Como é comum depois de cada aplicação de sanções, a Presidência russa classificou como “inaceitáveis” as novas medidas punitivas contra Moscou anunciadas no dia anterior por Washington.

No entanto, o Kremlin se mostrou nesta sexta mais satisfeito com as palavras do presidente americano.

“O presidente Putin falou [em primeiro lugar] da necessidade de normalizar as relações e de uma desescalada […], então é positivo que os pontos de vista dos dois chefes de Estado coincidam”, declarou o porta-voz da Presidência russa, Dimitri Peskov, que também destacou que os dois países discordam em vários aspectos.

Desde sua chegada ao poder, Biden prometeu ser muito mais firme com Moscou do que seu antecessor Donald Trump, acusado de complacência com Putin.

Por outro lado, o presidente dos Estados Unidos também propôs ao seu homólogo russo uma cúpula “em um terceiro país” e “nos próximos meses”.

“Chegou a hora da desescalada”, disse Biden na quinta-feira.

A ideia de uma reunião foi bem recebida em Moscou, embora Peskov tenha reivindicado que Putin foi o primeiro a propor um diálogo profundo, referindo-se a um convite em março para um diálogo online público e ao vivo depois que Biden chamou o presidente russo de “assassino”. A oferta foi ignorada pela Casa Branca.

A Finlândia se ofereceu para sediar uma eventual cúpula entre Biden e Putin, segundo anunciou nesta sexta-feira a Presidência finlandesa. O país nórdico já organizou uma cúpula entre Trump e Putin em 2018.

– Sanções e delírios –

As relações entre Rússia e Estados Unidos se degradaram consideravelmente desde 2014, quando a Moscou anexou a península ucraniana da Crimeia. Mesmo no governo de Trump, que não escondia sua admiração por Putin, Washington multiplicou as sanções.

As medidas anunciadas na quinta-feira, e às quais Moscou prometeu uma réplica em breve, designam a expulsão de dez diplomatas russos e proíbem algumas compras de dívida russa.

Também afetam sociedades acusadas de apoiarem as atividades de ataques cibernéticos dos serviços de inteligência de Moscou.

É uma represália ao gigantesco ciberataque de 2020, formalmente atribuído à Rússia, que usou como vetor a SolarWinds, um editor americano de programas informáticos que foi hackeado para introduzir uma falha em seus usuários, entre os quais havia várias agências federais americanas.

Acusado diretamente por Washington, o serviço de inteligência externa russo afirmou que essas acusações são “delírios”.

Essas desavenças entre Rússia e Estados Unidos também ocorrem em meio às crescentes tensões russo-ucranianas.

A Ucrânia acusa a Rússia de buscar um motivo para invadir o país, e Rússia acusa a Ucrânia de preparar uma ofensiva contra os separatistas pró-russos do Donbass (leste ucraniano).

Os países ocidentais pediram a Moscou para reduzir suas forças na região e expressaram seu apoio à Ucrânia.

O presidente ucraniano Volodimir Zelenski se reunirá nesta sexta-feira com o presidente francês Emmanuel Macron em Paris, e a chanceler alemã Angela Merkel participará do encontro por videoconferência.

O Kremlin afirmou nesta sexta que espera que Macron e Merkel usem sua “influência” sobre o presidente ucraniano para conter “as provocações” de Kiev no leste do país.