Em uma viagem de carro, é ótimo trafegar em uma estrada asfaltada, bem sinalizada. Mas para ter essa comodidade e chegar de maneira rápida e segura ao destino, é preciso pagar um pedágio muitas vezes caro. E se o motorista quiser usar uma rota alternativa, vicinal, mais barata, e chegar ao mesmo lugar, também com segurança, apenas um pouco depois? Seria vantajoso para quem não tem muita pressa. Transportando essa situação para a tecnologia de transmissão de dados, podemos dizer que a estrada moderna é o 5G e o percurso opcional é o LoRa (Long Range), um padrão de frequência aberta, pública, que permite a implementação de aplicações a custos muito baixos, com menor consumo de energia e baterias. É nesta gestão de conexões alternativa que a Kore, líder global na criação de soluções de IoT (internet das coisas), tem se destacado.

A companhia de origem norte-americana opera no Brasil desde 2016 e acaba de montar o KoreLabs, um hub de soluções em São Paulo. Em três meses de funcionamento, já rende os primeiros bons frutos. Ali foi criada a Kora, uma plataforma de gerenciamento de dispositivos IoT que despertou o interesse da matriz da companhia nos Estados Unidos e em sedes da empresa na Europa. “Todo mundo está focado na qualidade do equipamento ou na capacidade da aplicação. A gestão do equipamento e da aplicação é o diferencial da Kora, que ninguém consegue fazer direito”, afirmou Sergio Souza, vice-presidente da empresa no Brasil.

Kora é um painel de controle dos dispositivos conectados pela rede LoRa, que não é exatamente uma nova tecnologia. Pelo contrário. Tem ao menos três décadas. Mas é subutilizada, preterida pelas frequências celulares privadas (2G, 3G, 4G e 5G) licenciadas para as grandes operadoras de telefonia e internet. Tem a seu favor a flexibilidade e a versatilidade. Pode ser usada para montar uma rede de conexão exclusiva para uma empresa, por exemplo. E pode complementar uma rede licenciada.

O ponto negativo é a latência. Por isso custa menos e não é usada para aplicações mais críticas e pesadas, que requerem mais velocidade, instantaneidade e precisão, como sistemas de reconhecimento facial, cirurgias remotas e grandes volumes de dados. “Se tem cobertura e autonomia, resolve uma infinidade de problemas. Muitas operações exigem preços menores e bases maiores”, disse o executivo, ao ressaltar que muitos projetos tecnológicos de empresas não avançaram na rede celular por serem caros. A LoRa chega a custar um décimo do que as conexões tradicionais. E alcança locais que alguns dispositivos de IoT conectados via rede celular não alcançam. “Dentro de máquina de solda, com muito ruído, funciona. Por isso é bem empregado na indústria”, afirmou Sergio Nunes.

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“Todo mundo está focado na qualidade do equipamento ou na capacidade da aplicação. A gestão dessas duas pontas é o diferencial” Sergio Souza VP da Kore Brasil.

Além da indústria, essa tecnologia é bastante utilizada para rastreamento de ativos e frotas, medição remota de energia, água ou gás, cidades inteligentes, smart building e agronegócio. A Kore tem 12 milhões de dispositivos conectados no mundo. A previsão de receita global para 2021 é de US$ 219 milhões e em 2022, US$ 238 milhões.

AMAZON A plataforma Kora, por onde os clientes podem inserir dispositivos, ligar e desligar objetos e analisar dados, é uma das apostas para incrementar o faturamento. Segundo Giulio Loffreda, diretor de desenvolvimento do KoreLabs, a aplicação está sendo estudada pela gigante do e-commerce Amazon. “Vamos saber como a plataforma tem aderência com a parte de IoT da Amazon, se tem integração ou se será necessário construir um módulo específico”, afirmou. Recentemente, a Kore ganhou destaque, pelo segundo ano consecutivo, no Quadrante Mágico do Gartner na categoria Managed IoT Connectivity Services, setor dominado pelas empresas Vodafone (inglesa) e AT&T (americana).

A estrada oferecida pela companhia faz parte de uma malha de oportunidades promissoras para os próximos anos. O setor relacionado às soluções IoT cresce cerca de 40% ao ano e deve representar um mercado de US$ 11 trilhões até 2025, segundo estimativas da Fundação Getulio Vargas (FGV). A aceleração é certa. E o caminho está traçado para a Kore.