Empresas de tecnologia, envoltas pelo frenesi das moedas virtuais, estão buscando alternativas para lucrarem com isso. E, ao invés de especularem no mercado ou investirem na mineração das moedas, elas decidiram lançar suas próprias criptomoedas.

O mais recente anúncio foi o da Kodak, que após ter lançado sua câmera digital, no início dos anos 1990, quase fechou as portas. A companhia passou por um processo de falência e entrou em recuperação judicial em 2012, da qual saiu um ano depois. Ela conseguiu evitar a quebra, mas nunca recuperou sua a força.

Com o lançamento da KodakCoin, uma moeda que servirá para que fotógrafos negociem direitos autorais diretamente da plataforma de gerenciamento online da Kodak, a empresa tenta sair da lama. Acionistas se animaram. Dois dias após o anúncio, os papeis da empresa de Rochester, nos Estados Unidos, subiram 200%, ou seja, triplicaram de valor.

A aposta é mais no uso do Blockchain – a tecnologia inovadora por trás da Bitcoin e que garante a segurança das transações – do que na própria criptomoeda. A Kodak acredita que, com o uso do Blockchain, os fotógrafos não precisarão mais se preocupar com o roubo de propriedade intelectual.

“Para muitos na indústria de tecnologia, ‘Blockchain’ e ‘criptomoedas’ são palavras quentes. Mas para fotógrafos, que há tempos sofrem para conseguirem ter controle sobre o seu trabalho, estas palavras quentes são as chaves para solucionar um problema que parecia insolucionável”, afirmou o CEO da Kodak, Jeff Clarke.

Outras companhias estão seguindo o mesmo caminho. Segundo o site CoinDesk, o aplicativo de mensagens instantâneas Telegram, baseado na Rússia, está para lançar o seu próprio dinheiro digital. Segundo fontes do site, os gestores do app querem levantar US$ 1,2 bilhão com a venda da criptomoeda no mercado.

A operação por trás desse lançamento de moedas virtuais funciona como uma abertura de capital. No entanto, as empresas não precisam cumprir as regras de agências reguladoras, como a SEC, nos Estados Unidos, ou a CVM no Brasil. Qualquer um, em qualquer lugar do mundo, poderia comprar uma moeda do Telegram, que funcionaria como uma ação. A empresa continuaria a deter uma grande parte do total de moedas e outras circulariam no mercado. Dependendo de como a evolução da companhia é vista pelos investidores, a moeda valoriza ou desvaloriza. Caso o Telegram resolva vender todas as suas moedas no mercado, ela perde o lastro e o dinheiro do investidor vira “pó”.

Mas é fácil assim criar uma criptomoeda? Sim. Com inúmeras moedas virtuais de código aberto, como a Ethereum – a preferida das empresas –, essas companhias não têm qualquer dificuldade em lançar uma própria. Basta copiar o código fonte, fazer pequenas alterações, como trocar o nome da moeda, e lançá-la em alguma bolsa que aceite transacioná-la.

No Brasil, um projeto busca colocar essas ideias de pé. A Bolsa de Moedas Empresariais de São Paulo (Bomesp) deve ficar online ainda no primeiro semestre de 2018. A ideia é que moedas criadas por companhias de tecnologia sejam negociadas nesse ambiente. E o objetivo é simples: permitir que essas empresas, principalmente startups, consigam levantar capital mais facilmente.

O lançamento das moedas, nesse caso, seria mais próximo ao de um crowdfunding. Mas, ao invés do investidor receber uma caneca com o logotipo da startup, ele fica com uma moeda virtual. A depender do sucesso da jovem empresa, a caneca poderá ser mais útil.