A Prevent Senior e a Hapvida compraram mais de 5 milhões de caixas de remédios comprovadamente ineficazes contra a covid-19, como cloroquina, ivermectina e hidroxicloroquina desde o início da pandemia e seguem receitando o medicamento para os seus pacientes. A compilação inédita foi feita pela Repórter Brasil a partir de documentos internos dos planos de saúde proprietários dos hospitais.

Os dados mostram que a prescrição seguiu ocorrendo mesmo após fabricantes de cloroquina terem divulgado notas não recomendando o medicamento para Covid e seis meses depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado a ineficácia da hidroxicloroquina. Relatos de pacientes mostram que medicamentos do chamado kit-covid seguem sendo receitados, conforme a Repórter Brasil.

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Em março deste ano, a Hapvida adquiriu mais de 1 milhão de caixas de cloroquina – 15 vezes mais que o total comprado um ano antes, quando a pandemia estava no início e a eficácia do medicamento ainda era estudada. A operadora comprou ainda entre março e abril deste ano mais de 800 mil caixas  caso da ivermectina.

De acordo com a Repórter Brasil, somadas as compras, daria para distribuir praticamente uma caixa de um dos medicamentos do kit para cada um dos quase 5 milhões de beneficiários das operadoras, visto que a Prevent tem 540 mil e a Hapvida, que domina o mercado no Nordeste, tem 4,8 milhões de pacientes.

A Hapvida comprou 3,6 milhões de caixas dos remédios que compõem o kit entre março de 2020 e maio de 2021, sendo 2,3 milhões de caixas de cloroquina e hidroxicloroquina e 1,3 milhão de caixas de ivermectina. Os dados constam em um documento interno enviado pela operadora à CPI da Covid.

Já Prevent Senior teria comprado o kit apenas em 2020, segundo dados obtidos com exclusividade pela reportagem. No entanto, a operadora segue até hoje receitando o kit-covid, conforme pacientes informaram à reportagem sob condição de anonimato. No total, apenas entre março e junho de 2020, foram compradas ao menos 1,5 milhão de caixas dos remédios do kit, o que equivale a quase três vezes o número de clientes da empresa. Em março do ano passado, foram compradas 240 mil caixas de cloroquina e hidroxicloroquina; em abril, mais 469 mil e em maio e junho, foram pelo menos 400 mil por mês.

Vale lembrar que a empresa de plano de saúde Prevent Senior está sendo acusada de ocultar mortes em estudo sobre a cloroquina. A empresa teria feito um acordo com o governo federal para promover a venda de hidroxicloroquina e azitromicina, dois medicamentos cuja eficácia contra covid-19 não tem comprovação científica.

A denúncia partiu de um grupo anônimo de médicos da empresa, que enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 um dossiê com as provas da acusação. A GloboNews teve acesso aos documentos.

Para legitimar as vendas e o acordo com o poder público, o convênio teria falsificado um estudo que indica a eficácia das drogas no tratamento contra o coronavírus. A pesquisa, que começou a ser feita em 25 de março deste ano, teria sido manipulada com a omissão de sete mortes de pacientes testados com os medicamentos – apenas dois óbitos são citados.

Nesta quinta-feira (16), era esperado o depoimento do diretor executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, na CPI da Covid, mas ele não compareceu.