O líder norte-coreano, Kim Jong Un, apresentou um pedido excepcional de desculpas nesta sexta-feira, após o “inesperado e vergonhoso” assassinato de um sul-coreano no mar, anunciou o governo de Seul, uma maneira de apaziguar a indignação do vizinho do Sul.

O pedido de desculpas da Coreia do Norte, em particular do próprio Kim, é algo extremamente incomum e foi divulgado em um momento de congelamento das relações entre as Coreias, assim como das negociações entre Pyongyang e Washington pela questão nuclear.

O dirigente norte-coreano afirmou que “lamenta profundamente o imprevisto e vergonhoso assunto” e pediu desculpas “por ter decepcionado o presidente Moon Jae-in e os sul-coreanos”, informou o governo de Seul.

Suh Hoon, assessor de Segurança Nacional da Coreia do Suk, leu uma carta do departamento do partido governante do Norte responsável pelas relações com o vizinho do Sul.

Na carta, Pyongyang admite que soldados atiraram quase 10 vezes contra um homem que entrou ilegalmente nas águas do país e se negou a declarar corretamente sua identidade.

Os guardas da fronteira abriram fogo como foram ordenados, segundo a carta.

Pyongyang não confirmou o teor da carta e a imprensa estatal norte-coreana não mencionou o evento.

De acordo com analistas, a Coreia do Norte está tentando usar a mensagem para apaziguar o vizinho do Sul, onde o assassinato, o primeiro do exército norte-coreano em 10 anos, provocou indignação.

A vítima, que trabalhava para a indústria pesqueira, morreu na terça-feira.

O corpo, que foi deixado no mar em um primeiro momento, foi queimado mais tarde pelo temor de contaminação por coronavírus.

Ahn Chan-il, um desertor que virou um investigador com base em Seul, afirmou que é “extremamente raro que o comandante supremo do Norte peça desculpas, especialmente aos sul-coreanos e seu presidente”.

“Acredito que é a primeira vez desde 1976”, disse, em referência ao caso conhecido como “assassinato do machado”, a morte de dois soldados americanos por soldados norte-coreanos na Zona Desmilitarizada (DMZ).

Leif-Eric Easley, professor da Universidade de Ewha em Seul, disse que o suposto pedido de desculpas de Kim “reduz o risco de uma escalada entre as duas Coreias e mantém as esperanças de reconciliação de Moon”.

“É um gesto diplomático que evita um possível conflito a curto prazo e preserva a possibilidade de obter benefícios a longo prazo de Seul”, completou.

– Ato “abominável” –

O assassinato provocou revolta na Coreia do Sul. O presidente, que sempre defendeu relações melhores com Pyongyang, chamou o ato de “chocante” e intolerável.

Em um editorial, o jornal sul-coreano Joong Ang afirma que está “furioso com o ato abominável do Norte”. “O assassinato de um homem desarmado e a queima de seu corpo não podem ser perdoados de nenhuma maneira”, destaca o texto.

O homem – que usava colete salva-vidas – desapareceu na segunda-feira a bordo de um barco patrulha que navegava perto da ilha sul-coreana de Yeonpyeong, que fica a poucos quilômetros da fronteira marítima com o Norte.

As autoridades norte-coreanas o localizaram 24 horas depois.

De acordo com a imprensa sul-coreana, o homem, de 40 anos e pai de dois filhos, se divorciara recentemente e enfrentava problemas financeiros.

Na quinta-feira, o exército sul-coreano afirmou que o homem foi interrogado durante várias horas enquanto estava na água e teria expressado o desejo de desertar, antes de ser assassinado “por ordem de uma autoridade superior”.

Até o momento, a Coreia do Norte, que fechou as fronteiras no fim de janeiro, afirma que não registrou nenhum caso de covid-19 em seu território.