Sal Khan percebeu que a pandemia mudaria a educação quando em fevereiro descobriu que seu site, o Khan Academy, que disponibiliza cursos online, estava tendo um repentino aumento de visitas a partir de usuários da Coreia do Sul.

“Recebemos uma carta de um professor que nos contou que eles estavam usando a Khan Academy para manter as crianças aprendendo durante o fechamento das escolas”, afirmou o fundador à AFP, baseado em San Francisco, que rapidamente percebeu o papel fundamental do seu site durante a pandemia.

A ideia surgiu em 2004. Sal Khan, então administrador de um fundo de investimentos, queria dar aulas à sua prima, de 12 anos, que morava do outro lado dos Estados Unidos. Ele usou um aplicativo que permitia o uso de um quadro branco virtual, o Yahoo Doodle.

A partir disso, desenvolveu o primeiro site do Khan Academy disponibilizado gratuitamente ao público em geral, tornando-o a plataforma de ensino virtual mais usada no planeta.

O projeto está disponível em 46 idiomas, e tem uma média de 100 milhões de usuários. O site é gratuito graças ao apoio financeiro da Fundação Gates, Google e outros.

Para ajudar os pais confinados com seus filhos, Sal Khan adaptou a plataforma. Acrescentou vídeos, artigos e ferramentas online, como programações e webinars, voltadas para pais e professores.

“Também tivemos que testar a resistência dos nossos servidores”, ressaltou o fundador do site, de 43 anos.

O número mensal de alunos passou de 20 milhões para 30 milhões, e cada usuário gastou dois terços a mais do seu tempo aprendendo do que antes.

– Tirar as crianças das telas –

Às vésperas da volta às aulas que em vários países serão virtuais, como nos Estados Unidos, Sal Khan recomenda aos pais adaptar-se ensino online por um longo prazo. Por exemplo, ele aconselha dedicar um espaço de trabalho aos cursos online, para criar uma separação mental entre a brincadeira e a escola.

E para evitar ficar desconectados no verão, os pais podem dedicar de 20 a 30 minutos por dia às disciplinas básicas, como matemática, e bater um papo no Zoom ou por escrito com outras crianças para que possam discutir sua leitura e outros assuntos.

“Você tem que torná-lo interativo, você tem que tirar as crianças da tela”, explica Sal Khan, enfatizando que o aprendizado não pode acontecer apenas via Zoom.

A vantagem da era atual é que pode dar um novo impulso para acabar com a disparidade digital entre famílias ricas e pobres, ressalta ele. Sal Khan está desenvolvendo um projeto de tutoria gratuito para as crianças mais desfavorecidas.

– Igualdade de oportunidades –

Ao contrário de outras grandes plataformas de cursos online como Coursera e EdX, que são pagos, a Khan Academy não tem fins lucrativos e oferece cursos que vão desde a pré-escola até a faculdade.

Sal Khan, formado em Ciência da Computação pelo MIT e com MBA pela Harvard Business School, é um professor talentoso, capaz de ensinar assuntos complexos de maneira muito simples. Ele que desenvolveu vários dos cursos, principalmente os de matemática e ciências. O site também oferece cursos de história, economia e direito.

Vários estudos mostraram que a plataforma está associada aos melhores resultados, principalmente no aprendizado da matemática e na alfabetização de crianças de origens mais humilde. O site é parceiro de muitos distritos escolares nos Estados Unidos, e fez parceria com o SAT (2015), exame de admissão às universidades americanas, equivalente ao vestibular no Brasil.

“Eu era uma criança que gostava de aprender”, conta Khan, de origem indiana e de Bangladesh, ao explicar sua vocação tardia.

Membros da sua família começaram a pedir sua ajuda depois de ver bons resultados com sua prima, Nadia. “Expliquei aos meus primos, e depois aos primos de todos os outros, assim como eu mesmo tinha aprendido”.

O idealizador orgulha-se do site ser gratuito, pois acredita que o mercado não é adequado para a área de educação. Seu trabalho é “restaurar a igualdade de oportunidades”, ressalta Khan.

“Quando uma criança quer aprender, você não deve perguntar quanto os pais podem pagar ou se eles podem usar o cartão de crédito. Devíamos dizer: vamos ensiná-lo”.