Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A joint venture em mineração integrada pela Cosan deve começar a produzir no Pará em 2025, prevendo uma capacidade inicial de 10 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano, que deverá ser expandida considerando os grandes recursos minerários na região de Carajás, onde a gigante Vale já atua, disse nesta terça-feira o executivo escolhido para liderar o projeto.

O TUP Porto São Luís S.A, que viabilizou a formação da JV Mineração e está incluído no empreendimento, uma vez que permitirá o escoamento da produção de minério de ferro ao exterior, poderá exportar mais de 50 milhões de toneladas de minério de ferro ao ano no futuro, disse Juarez Saliba de Avelar, apontado como o CEO da JV Mineração.

“A nossa meta é começar com cerca de 10 milhões de toneladas… ‘rampando’ em 2025, início de 2026”, afirmou ele, durante teleconferência para detalhar o projeto divulgado na véspera.

“Até o final da década, devemos ter tamanho de produção bastante significativo, algo difícil de dizer no momento”, acrescentou ele, evitando dar projeções de prazo mais longo.

Segundo o executivo, o objetivo da nova empresa será atender o mercado de minério de ferro com um produto de maior valor agregado, com teor de ferro acima de 67%, que pode ser extraído da região de Carajás.

“Vamos buscar nichos de mercado, queremos nichos que paguem prêmios de mercado, assim como faz a Vale hoje, e com disciplina para que a gente perpetue esses prêmios”, destacou.

Ele disse ainda que o projeto é viabilizado até mesmo se o preço do minério de ferro cair acentuadamente na comparação com os patamares atuais da commodity, cotada a cerca de 150 dólares por tonelada na China.

“O nosso projeto dá retornos muito interessantes com ‘break-even’ de preço de minério de 62% de ferro na faixa de 60 dólares por tonelada, todo mundo acha que o preço vai estar acima disso, e além disso tem os prêmios que contribuem mais com o retorno desse projeto”, destacou.

Segundo o CEO, os recursos minerais da companhia no Pará, considerando sondagens já feitas, somam de 2 bilhões a 3 bilhões de toneladas, “para poder transformar em minas”.

“Com a sondagem adicional no próximo ano esperamos que esse número cresça razoavelmente em relação aos recursos que temos”, disse Avelar.

Ele disse ainda que a produção vai ser desenvolvida concomitantemente com a construção e expansão do porto.

Segundo Julio Fontana, especialista em logística ferroviária e portuária e consultor sênior da JV Mineração, o projeto do porto será voltado para minério de ferro em uma primeira etapa, mas posteriormente poderá ser avaliada a possibilidade de embarque de outros produtos, como grãos, por exemplo.

Ele lembrou que a Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale, que também transporta o seu minério por ela, está praticamente duplicada, e que pelas regras o operador ferroviário tem que expandir a capacidade quando o empreendimento atinge o limite de 90%, o que dá tranquilidade à JV Mineração.

INVESTIMENTO

A entrada da Cosan em mineração se deu por meio da sua controlada Atlântico Participações, que estabeleceu joint venture com o Grupo Paulo Brito, controlador da Aura Minerals.

Documento divulgado na véspera prevê que a Atlântico deterá 37% do capital total e controle compartilhado da nova companhia –ou seja, 50% das ações ordinárias da empresa– após o aporte do porto e de caixa.

Pelo projeto anunciado na véspera, o empreendimento inclui a aquisição de 100% do TUP São Luís por 720 milhões de reais.

“Temos várias fontes de funding disponíveis, mas temos disciplina financeira permanente, e traremos outros investidores para o projeto se for necessário, e eventualmente temos até o interesse em trazer mesmo que tenhamos 100% dos recursos para executar os financiamento”, disse o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Cosan, Marcelo Eduardo Martins.

Segundo ele, a JV Mineração é um projeto de investimento fora do portfólio permanente do conglomerado Cosan, que já atua em logística com a Rumo, gás e energia com a Compass e produção e distribuição de combustíveis, com a Raízen.

Também na véspera, a Cosan anunciou essa nova estratégia de investimentos por meio de uma estrutura de fundos, através da qual realizará aportes com recursos próprios e eventualmente de terceiros em novos negócios, como é o caso da JV Mineração.

Martins explicou que o “timing” do investimento em mineração foi “regido basicamente pelo encontro do ativo do porto”.

“Este é um ativo absolutamente fundamental, é o único… o último ativo dessa relevância disponível neste local, e entendemos que era absolutamente estratégico para o negócio”, completou, ao se referir ao porto.

Questionados, os executivos avaliaram que os projetos não deverão enfrentar problemas de licenças ambientais, ressaltando que o porto já tem autorização de órgão do meio ambiente.

O CEO da JV disse ainda que a empresa buscará ser a “melhor do mundo” em pegada de carbono, e que utilizará energia renovável nas operações.

Ele disse ainda que o processamento de minério de ferro será a úmido, mas a disposição de rejeitos será a seco. A disposição de rejeitos de mineração a seco dispensa o uso de barragens.

(Por Roberto Samora)

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