Faltando nove dias para o primeiro turno da eleição presidencial francesa, a justiça pediu ao Parlamento Europeu a retirada da imunidade parlamentar da candidata da extrema-direita Marine Le Pen.

A líder da Frente Nacional, apontada como favorita no primeiro turno pelas pesquisas, é investigada por aplicar um sistema de empregos fictícios para remunerar alguns de seus colaboradores com os fundos públicos da União Europeia.

Le Pen, de 48 anos, recusou-se em 10 de março a comparecer ante à justiça para um possível indiciamento neste caso, evocando a sua imunidade de eurodeputada. Esta investigação até agora não prejudicou sua popularidade.

Entrevistada nesta sexta-feira pela FranceInfo, a candidata minimizou o pedido de levantamento da imunidade parlamentar: “isso é normal, é o procedimento convencional, não estou surpresa”, afirmou.

Seu advogado Rodolphe Bosselut se disse “surpreso”, “pois havia convencido Marine Le Pen a comparecer perante os juízes após as eleições legislativas (junho)”.

Fato inédito na França, esta campanha presidencial tem sido marcada por casos particulares que relegaram ao segundo plano os debates sobre os rumos do país.

Assim, o candidato conservador François Fillon foi indiciado em março por desvio de fundos como parte de uma investigação por empregos fictícios envolvendo a sua família. Desde as revelações do caso, Fillon deixou de ser o favorito para suceder o presidente socialista François Hollande.

As pesquisas mais recentes apontam o seguinte cenário: Marine Le Pen e Emmanuel Macron lado a lado, seguidos por François Fillon e Jean-Luc Mélenchon, candidato da extrema-esquerda em plena ascensão.

O pedido de levantamento da imunidade de Le Pen, enviado no final de março, deve levar vários meses até ser julgado em razão do longo percurso processual e de processamento no Parlamento Europeu: em 2016, a análise de quinze pedidos semelhantes levou entre quatro e oito meses.

O uso da imunidade parlamentar por Le Pen gerou críticas de um dos onze candidatos presidenciais. Philippe Poutou, do Novo Partido Anticapitalista (NPA), denunciou durante um debate a hipocrisia de uma candidata que se diz antissistema, mas que não hesita em usar o sistema para não submeter-se à justiça.

“Quando somos convocados pela polícia, não temos imunidade de trabalhador, devemos ir!”, lançou o candidato, deixando Le Pen sem palavras.

Os problemas legais de Le Pen, no entanto, reverberaram menos que aqueles de François Fillon.

Nesta reta final, faltando pouco mais de uma semana para o primeiro turno no dia 23 de abril, os candidatos redobram seus esforços para fazer a diferença, especialmente quando o número de eleitores indecisos ainda segue elevado – cerca de um em cada três franceses ainda não decidiu em quem votar.