Após três anos em prisão domiciliar no Canadá a pedido dos Estados Unidos, que queriam sua extradição para julgá-la por fraude bancária, a diretora financeira da gigante de telecomunicações Huawei poderá retornar à China, graças a um acordo firmado com as autoridades americanas para “adiar” as diligências.

o Tribunal Federal do Brooklyn deu aval, nesta sexta-feira (24), ao acordo alcançado entre o Departamento de Justiça dos EUA e os advogados de Meng Wenzhou, a fim de acabar com este imbróglio judicial que já dura quase três anos e complicou as relações entre os dois gigantes.

Logo depois, uma juíza canadense encerrou o processo de extradição contra a executiva chinesa, e ordenou que as condições de sua fiança sejam suspensas, libertando-a.

O governo dos Estados Unidos propôs “adiar” o processo contra a empresária até o final de 2022 se antes de 1º de dezembro o acordo não for impugnado ou rompido. A partir dessa data, as autoridades dos EUA retirarão todas as acusações.

Segundo a advogada do governo, Nicole Boeckmann, a acusada admitiu ter desempenhado um “papel fundamental” no esquema financeiro que a Huawei orquestrou para poder continuar a fazer negócios com o Irã e contornar as sanções impostas por Washington ao país.

Meng apareceu por videochamada do Canadá e respondeu em chinês às perguntas da juíza do Tribunal Federal do Brooklyn, Ann M. Donnellya.

Meng Wanzhou, de 49 anos, filha do fundador da Huawei Ren Zhengfei, foi detida em 1º de dezembro de 2018 no aeroporto canadense de Vancouver a pedido de Washington.

A Justiça americana a acusou de ter mentido para um executivo do banco HSBC durante uma reunião em Hong Kong em 2013 sobre os vínculos entre o grupo chinês e uma subsidiária chamada Skycom que vendia equipamentos para o Irã.

A empresária sempre negou as acusações das autoridades dos EUA. A defesa acusou repetidamente funcionários canadenses e norte-americanos de “abuso” processual e pediu sua libertação.

– Canadá no olho do furação –

A prisão da diretora financeira da Huawei no Canadá foi seguida alguns dias depois pela do empresário canadense Michael Spavor – que em agosto foi condenado a 11 anos de prisão por espionagem e roubo de segredos de Estado – e do ex-diplomata Michael Kovrig na China, provocando uma séria crise diplomática entre Pequim e Ottawa.

Pequim acredita que o governo dos Estados Unidos, então liderado por Donald Trump, buscava sobretudo enfraquecer a Huawei, empresa chinesa líder mundial em equipamentos e redes 5G, sem equivalente do lado americano.

Desde 2019, a Huawei tem sido objeto de sanções do governo dos EUA, que a acusou de espionagem em seus telefones em favor da China.

Desde então, a companhia chinesa não pode acessar tecnologias americanas para seus produtos, como o sistema operacional Android, de propriedade do Google e usado por quase todos os fabricantes de smartphones, exceto a Apple.

Devido às sanções, a Huawei também não pode acessar certos componentes para suas redes e smartphones.

O resultado é que o grupo chinês foi expulso do pódio global de fabricantes de smartphones, após chegar a ultrapassar brevemente a Samsung e a Apple.

No final de 2020, a Huawei estava em sexto lugar em termos de vendas. No primeiro trimestre deste ano, suas vendas na China caíram 50% no comparativo anual, de acordo com a firma de análises Canalys.

Para contornar as sanções americanas, a Huawei lançou recentemente seu próprio sistema operacional, chamado HarmonyOs.