O câmbio manteve-se como principal referência para a curva de juros nesta terça-feira, 26, com as taxas acompanhando pari passu o movimento do dólar, renovando mínimas e máximas junto com a moeda. Na última hora da sessão regular, depois que a divisa reduziu os ganhos ante real após o Banco Central (BC) chamar o segundo leilão de dólar à vista do dia perto das 15h30, o fôlego das taxas também arrefeceu. As declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, ontem, trouxeram estresse aos mercados durante toda a terça-feira e, para piorar, a expectativa de que ele voltasse a falar sobre o tema hoje, e, eventualmente, amenizar o tom, foi frustrada. Nesse cenário, as apostas de queda da Selic nos próximos meses continuaram perdendo força.

O destaque na curva foram os contratos de curto prazo, com giro elevadíssimo, em especial o do DI para janeiro de 2021, com movimentação de mais de 1,5 milhão de contratos, possivelmente o recorde para este vencimento. A taxa encerrou a sessão regular em 4,73%, de 4,649% ontem no ajuste, e subiu mais na estendida, para 4,75%. Nas máximas, chegou a 4,81%.

A do DI para janeiro de 2023 subiu de 5,941% para 5,98% (regular) e 5,99% (estendida). O DI para janeiro de 2025 terminou em 6,59% (regular e estendida), de 6,541% e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,92% (regular) e 6,93% (estendida), de 6,851%. Já o dólar à vista fechou em nova máxima histórica, cotado em R$ 4,2400 (+0,61%), após chegar perto de R$ 4,28 nas máximas intraday.

Nas mesas de renda fixa, profissionais relataram uma nova onda de “stop loss” (zeragens de posições vendidas), em meio à percepção de que está havendo uma mudança na avaliação de cenário que justifica alterações estruturais nas posições. “As taxas estão subindo com fundamentos, não é apenas recomposição de prêmio”, disse o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.

De ontem para hoje, a curva trouxe mudança importante na precificação da Selic para o próximo Copom, apontando 63% de possibilidade de corte de 0,50 ponto, ante 78% ontem. Por outro lado, a chance de queda de 0,25 ponto subiu de 22% para 37%. Para o Copom de fevereiro, há apenas -9,8 pontos de redução precificados, ou seja, muito mais perto da manutenção da Selic do que de um eventual corte.

O câmbio tem trazido desconforto para quem está aplicado em juros, principalmente após Guedes ter dito ontem que é “bom se acostumar com o dólar mais alto”. “O câmbio neste nível é bom para crescimento, mas do jeito que a moeda subiu pode começar a pegar nos preços de combustíveis”, disse um gestor, lembrando ainda que o momento é de retomada da economia e de “normalização” da inflação com reajustes nos preços de carnes, loterias e energia. Por isso, para ele, o câmbio está “falando que chegou a hora do BC parar de cortar a Selic”, não fosse o BC ter se “amarrado” com a sua comunicação.