O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, apertou nesta quarta-feira (27) um pouco mais a pressão contra a maior inflação dos últimos 40 anos e elevou os juros em 0,75 ponto percentual, a uma taxa no intervalo de 2,25% a 2,5%.

Na prática, o BC norte-americano mostra que ainda está cauteloso quanto aos apertos que promoveu até aqui e que ainda realizará nos próximos três encontros até o fim do ano. Existe um temor de que elevar muito os juros neste momento de retomada pós-covid acentue a crise financeira e coloque o país em uma recessão aprofundada – tudo vai depender de como a economia responder aos novos ajustes realizados.

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Com os dados do PIB revelados nesta quinta-feira (28) apontando queda de 0,9% no segundo trimestre, os EUA estão em recessão técnica.

Como a política de juros dos EUA afeta a bolsa brasileira?

E com os juros subindo aos poucos, a renda fixa segue como o ativo que mais se beneficia dessa luta contra a inflação. O retorno é seguro e menos propenso aos ares de incerteza que circulam a economia global neste momento, ainda se recuperando da Covid-19 e lidando com os desdobramentos da guerra na Ucrânia. No Brasil, que conta com o Banco Central acelerando essa política contracionista desde o ano passado, e está com a Selic em 13,25%, os efeitos do aperto na economia já estão, de certa forma, precificados e as empresas já trabalham com este cenário conseguindo projetar adiante.

Apesar do anúncio nos EUA, ontem (28) o índice Bovespa, principal marcador da Bolsa brasileira, a B3, marcou alta de 1,67%, negociado a 101.437 pontos, algo que não era esperado pelos analistas em dia de anúncio do Fed. Isso porque a elevação dos juros nos EUA poderia sinalizar um fluxo de capitais para os títulos americanos, considerados os mais seguros no mundo, e enfraquecer o mercado doméstico. Com a postura ainda cautelosa do Fed, o investidor parece seguir apostando no mercado brasileiro.

“Um aumento de juros nos EUA gera pressão para empresas do S&P [índice com as maiores empresas listadas nos EUA], já que o mercado exige retorno cada vez maior para investir nelas, pois o investimento livre de risco está remunerando mais. Então, esse fluxo de saída das bolsas americanas pode migrar para países emergentes como o Brasil. O valor de mercado das bolsas americanas é gigantesco e qualquer porcentagem vinda de lá para cá pode gerar uma alta bastante expressiva aqui nas ações brasileiras, principalmente as small caps”, disse em nota Felipe Reymond Simões, gestor de recursos e diretor WIT Asset.

O aperto monetário do Fed, no entanto, gera suas ondas por aqui. “Por outro lado, os juros mais altos nos EUA pressionam a nossa Selic ainda mais. Então, se tivermos juros em um patamar mais elevado que o previsto, do que o mercado já está precificando, e durante mais tempo, a renda variável pode se tornar menos atrativa comparada à renda fixa”, complementou Felipe.

Como se preparar para este momento de altas nos juros?

O analista da WIT acredita que os investidores podem olhar para as rendas fixa e variável e enxergar boas opções. De um lado, a Selic em alta por pelo menos até o fim do ano, e as empresas com chances de seguir melhorando seus números do outro, mostram que o momento é de planejar. Ou ele corre para os retornos garantidos da renda fixa, ou aposta em altas mais rentáveis na bolsa.

“Períodos difíceis na economia não necessariamente coincidem com períodos difíceis nos investimentos. Há excelentes opções de investimentos, tanto em renda fixa, pois juros estão mais altos tanto no Brasil como nos EUA e em boa parte do mundo, quanto em renda variável”, disse.

“Por causa de toda essa queda que tivemos, estamos com vários ativos em bolsas negociando em níveis bem atrativos de valuation. Então, há excelentes opções. É um momento bem interessante para montar uma carteira de investimentos ou então para rebalanceá-la, dependendo do perfil e do momento do cliente”, completou Felipe Reymond.